Tuesday, October 12, 2004

A fonte de sangue

Tenho a impressão de que meu sangue em onda escorre,
Rítmico soluçar de nascente que morre.
Ouço-o bem que escorre em murmúrio de vaga,
Mas eu tateio em vão à procura da chaga.

Através da cidade, e pelas estacadas,
Faz as ilhas nascer por todas as calçadas,
Desalterando a sede a cada criatura
O seu fluxo que sempre o universo purpura.

Muitas vezes pedi a vinhos de prazer
Adormecerem só um dia o horror que mina;
O vinho aguça o olhar e torna a audição fina!

Eu procurei, no amor, um sono de esquecer;
E é-me somente o amor um colchão de punhais
Em que eu dou de beber às amadas fatais!

- Charles Baudelaire (texto extraído do livro As Flores do Mal)


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