Wednesday, August 23, 2006

Rag Time - a hora do peão

Cansado e sujo, olha para o portão de casa. Depois de bastante tempo na fábrica, já era hora. Sua carona se despede. E a porcaria do poste não se acerta, sempre com essa luz fraca. Mão no bolso, chaves na mão e o portão aberto. No jardim, o cachorro não se manifesta. Provavelmente por ter feito algo que não deveria – ao menos na concepção dos que lhe dão comida.

Entrando em casa, a mulher já reclama dos sapatos sujos de terra e se revolta por ver em sua expressão que ele nem se importa com isso. Tudo que importa está mais a frente: a sala de TV. Ah... o sofá, a tranqüilidade de não ter que fazer nada – as demandas da patroa não conseguem interferir nisso -, se estirar e fazer o que quiser. De preferência, não fazer nada.
Poderia colocar um disco do Scott Joplin, que ganhou em seu aniversário anos atrás e cuja música não sai da cabeça há mais de uma hora, mas prefere o silêncio ao redor. A música fica soando como antes, apenas em sua mente.

Estendendo a mão e pega, na mesinha ao lado, um charuto. E acendê-lo proporciona aquele prazer, que só quem experimentou sabe. Não é só o fumo, mas a situação toda. Livre dentro de sua própria caverna. Livre entre das poucas horas livres antes de começar um novo dia de trabalho duro.

À medida que o cansaço se acentua, o sono bate a porta. Aos poucos, fecha os olhos e dorme no sofá. E entra num pasto imenso, todo seu. Com cavalos treinados correndo por todos os lados, dos quais ele escolhe um e, usando apenas um simples gesto que parece pequeno frente a sua habilidade, monta no mais selvagem de todos. E segue correndo pelo campo. Correndo pelas estradas. Correndo no meio mato. Correndo pelas montanhas. Insistente e sem jamais se cansar.

Thursday, August 10, 2006

Analisando.doc

“Analyse” toca no player enquanto reflito sobre coisas diversas. Reflito e escrevo, busco sites e tento me organizar para o dia de amanhã – o muitos outros depois dele também chegam dando uma palhinha na minha projeção.

A música de Thom Yorke faz bastante sentido aqui: um contexto de introspecção, entrando cada vez mais dentro de mim mesmo; enfim, uma viagem.
O suor frio evidencia meu estado atual, de quem está exausto e, por causa disso, praticamente adoentado.

Pulo parágrafos constantemente porque, assim como na música que toca – já não é mais aquela -, a mudança de clima aqui se mostra um ingrediente necessário –“alta demanda”, no jargão economês. Procuro palavras, climas, situações, idéias interessantes que possam se tornar bonitas com algumas pinceladas, mas a coisa não está fácil.

O sofrimento hoje é outro. Já não há a presença das angústias passadas, com exceção de algumas. As perguntas já parecem ter respostas parciais e isso, no momento, me traz uma sensação de tranqüilidade. O maior problema atualmente é a busca pelo avanço, a evolução de assuntos já iniciados. Um deles é este texto.

Reflito sobre as coisas que escrevia antigamente. Gosto delas até hoje, são minhas crianças! Mas não sinto mais aquela força sugando na mesma direção. Quero dizer, em parte. Na verdade, faz parte da transformação. Hum...