Wednesday, September 08, 2010

O outro

As pessoas são sinceras quando amam porque sentem uma coisa que foi formada de forma sistemática por fatores que elas desconhecem e que determinam que o amor será sentido independentemente de suas vontades mesmo que este amor mostre suas fragilidades e seus maiores defeitos que também são julgamentos sobre certo e errado e sobre o que elas querem para elas mesmo sem se darem conta disso. E, mesmo assim, dizem que amam de forma pura - e acreditam nisso.

Cruel?

Enjoy the silence

Menos. Preciso disso. Todos precisamos.

Tuesday, July 20, 2010

O dia do amigo

Um copo e depois outro, e mais outro. Sem ninguém ao lado, nenhuma pessoa conhecida para trocar alguma mensagem de afeto. E por que deveria? Não poderia ser diferente, uma vez que fora passado para trás por seu melhor amigo. Um amigo daqueles que você tem certeza que não vai te deixar na mão. Mas ele deixou. Deixou por ser intolerante, por não querer entender. Por não tentar enxergar o lado deste, que é um homem tão sensato que não pensou duas vezes antes de desperdiçar uma companhia tão prestigiosa.

"CALE A BOCA!", grita, chamando a atenção de todos. Grita contra a própria consciência, que lhe atormenta e não deixa que se esqueça daquilo que não tem certeza. Não tem certeza do que fez, assim como do que poderia ter feito mas foi orgulhoso. E já não tem mais certeza de quase nada. Neste boteco sujo, com estas pessoas estranhas que agora lhe olham como se fosse apenas um bêbado perdido na noite. "Bando de idiotas".

Larga o dinheiro no balcão e sai cambaleando, observado pelos que fazem piada de seus trejeitos - iguais aos de qualquer homem após algumas doses de cachaça. Andando sem rumo e procurando um motivo para voltar para algum lugar, segue em frente, em direção a praça. Como se lá fosse encontrar algum conforto, no lugar que costumava frequentar quando tudo ainda era muito diferente do que resta hoje. Com a única certeza de que no dia seguinte terá que se ver com uma dor de cabeça igual a do dia anterior.

Saturday, July 10, 2010

Discurso de Tyler Durden, no filme Clube da Luta (Fight Club)

"I see the strongest and the smartest men who ever lived. I see all this potential.. I see it squandering. God dammed! An entire generation pumping gas.. waiting tables. Slaves with white collars. Advertising has its taste in car and clothes.. working in jobs we hate so we can buy shit we don´t need. We´re the middle children of history, man. No purpose and place. We have no Great War.. no Great Depression. Our Great War is a spiritual war. Our Great Depression is our lives. Born and raised on television to believe that one day we´ll all be millionaires, movie gods and rock stars.. but we won´t. We are slowly learning that fact. And we´re very, very pissed off."

Thursday, July 08, 2010

Sem saco

Personagem #1, Stress, bate na porta: "Olá."

Personagem #2, cidadão comum, trabalhador, cansado, exaurido e sem cabeça para nada: "..."

Bate a porta com força.

Wednesday, July 07, 2010

Decisão

Duas portas. Uma delas é a que eu quero, a outra é um caminho para uma realidade que não é a desejada, mas, no fundo ninguém sabe onde vai dar - a vida prega tantas peças que você muitas vezes desiste de determinar se uma coisa ruim continua sendo ruim mesmo, no fim das contas. Então, voltemos às portas.

A porta certa eu sei qual é, mas ao mesmo tempo não sei qual escolher. Não se trata de não querer, mas a porta ideal é de uma maneira que eu conheço em minha mente, em minha pré-concepção, mas quando olho para as duas, elas parecem iguais - o que as diferencia é apenas a essência. E, novamente, o que eu imagino como sendo ideal pode não ser tão melhor, ou até talvez, quem sabe, não ser melhor de nenhuma maneira, mas ainda assim ser bom - espero eu.

Para trás não vou. Atrás está um caminho sujo, molhado, cheio de lodo. Já disse que, nesta cena, o ambiente está todo escuro, com os holofotes focados em um espaço pequeno, do tamanho de um quarto simples de um hotel barato de uma cidade perdida de um filme que ninguém conhece? Pois bem, imagine este espaço, mas aberto e comigo encarando duas portas, uma ao lado da outra, e com um caminho atrás, sem fim, escuro e cheio de lodo. Mencionei meus trajes? Estou usando aquele paletó de viajante pobre, meio marrom, meio tom de areia. Não sou tão bom assim com cores, não exija muito de mim neste aspecto.

E cai um pingo. Um pingo seguido de outro, em minha cabeça. Volto minha visão ara cima e percebo que, neste mesmo cenário, temos também um cano velho e enferrujado, que deixa vazar um pouco da água - refrescante, mas ao mesmo tempo gelada demais, assustadoramente gelada - que vem do outro lado. O lado de trás das portas, soando como um incentivo, um lembrete de que eu devo fazer alguma coisa, tomar alguma decisão, ir ou ficar, decidir, então. E eu me ponho a pensar. Qual porta devo escolher? A da direita ou a da esquerda?

Wednesday, June 23, 2010

Papo de boteco

Cidadão comum 1: "Qual o sentido da existência?"

Cidadão comum 2: "Não sei, mas quando eu aproveito o que ela tem de bom parece fazer o maior sentido."

Thursday, June 17, 2010

O telefonema

20h50, sozinho no trabalho. O escritório preenchido pelo silêncio. O telefone toca e, ao atender, ninguém responde. Começa a tocar minha música preferida, uma sonata ao piano. Lembro que, tirando umas poucas pessoas, quase ninguém tem o número do meu trabalho. Depois de uns 20 segundos, o silêncio retorna. Pergunto "alô?" e colocam a música novamente, continuando do ponto onde parou. Toca até o final, me levando imerso, em transe com a situação, pra lá de bizarra. Até que a música chega ao fim. "ALÔ", diz em alto volume uma voz rouca, velha e estranha. Desligo.

E fico olhando para o nada, perplexo.

Thursday, April 15, 2010

sem maiúscula

escrever sem maiúscula tem seu jeito. diferente, mas um tantu qui elegante. e quem sabe inusitante. di si fazer puisia. mesmo fingindo u sertão. qui em lugar algum ixistia. nem na cabeça du iscrivinhador, nem na cabeça daquele que lia. só u folclore qui prevalecia. na fome da sede du qui não se tinha. no meio di tanta gente qui num cunhecia. na cidade qui u mundu lhe prometia. e que da noite o sono num sabia. e deixava seus sonhos di lado pru qui num intendia. mas apenas sabia. que foi nascido para viver. um dia após um dia.

Tuesday, April 13, 2010

Sai pra lá que aqui tem gente

Abre as cortinas para mim que eu não me escondo de ninguém, diz a música. E é bem isso mesmo. Nada de se esconder. Já basta toda a hesitação antes de agir, de pensar, e toda aquela merda da falta de atitude, que cedo ou tarde, ou até no meio do dia, ataca qualquer um. Chega disso. Eu quero é falar, dizer, contar, espalhar, colocar a boca no trambone, extravasar, colocar pra fora. Respirar, encher os pulmões e... falar mais, não deixar sobrar um milímetro quadrado de oxigênio. Quero murchar de tanto gritar contra todas essas coisas que me irritam e que continuam voltando, sempre retornando, sempre me aporrinhando, sempre me encendo o saco, e gritar ainda mais um pouco. Não quero, não preciso, não tolero, não aguento. A porta vai ficar fechada e nada disso vai entrar. Cabou, chega, já era, fechado para balanço. Vai-ver-se-eu-to-na-esquina. Ta bom assim?

Pronto, ufa. Acho que deu. Agora eu posso descansar, respirar com mais calma, por a cabeça no lugar. E pensar duas, três vezes, antes de me aborrecer, de querer gritar, de extravasar.