Sunday, February 27, 2005

Radiohead

Sem muito rumo na internet, buscava algo de interessente, enquanto ouvia o mais recente álbum do Radiohead, "Hail to th Thief". Como estava com o Soulseek aberto, resolvi baixar o antigo CD "The Bends", que faz tempo emprestei a um amigo, que emprestou a uma ficante, que não morava na cidade e foi-se embora para nunca mais voltar com o meu CD. Eu já comprei o CD antes, não posso ser acusado de nada por estar dizendo que baixo música sem pagar - mas acho que posso deixar subentendido que amanhã completo 30 CD´s virgens para este início de ano... Só uma observação: como será que uma pessoa poderia conhecer o trabalho solo de Van Dyke Parks aqui no Brasil, já que ele não foi lançado? Pô, é da década de sessenta! Nem rezando pra Santo Espedito...
Abri o site cifraclub ponto com, para ver se eles têm disponível a tablatura da música Go to Sleep, do Hail to th Thief, e vi que têm. Ufa, que alívio! Isso me faz lembrar que o Radiohead tinha um site oficial bem fora do comum, como se fosse uma continuação do trabalho deles como artistas de vanguarda. Entrei no www.radiohead.com e me deparo com uma surpresa. Eles renovaram a cara do site, ficando ainda mais bizarro e criativo. E logo após uma clicada e uns parágrafos encontro o seguinte texto que apresenta o, provavelmente, chat do site:
The Radiohead message board is here. It has lurkers. It has multi-coloured text. It has Blues. Blues are real. They are who they say they are, that is US. Sometimes people just come here to chat you know. Sometimes they come here to hurl abuse at each other. Sometimes they talk about music. Sometimes they've had a little bit too much to drink and they' are liable to say things they might regret. But thats ok. After all, who's listening?
Me senti bem. Coisas novas, gente inovando. Assim o mundo ainda tem jeito. E sempre com um bom humor por trás também.

Thursday, February 24, 2005

Andante

Na rua sem cor
Ele anda
Uma rua sem vida,
Ela apenas
Existe

O silêncio do mundo
Não lhe priva da
Barreira e do
Temporal
Pensamentos constantes

A cada loja
Bate, a porta
Bate de volta
Seu vazio
Nenhuma
Se abre

Nuvens cinza
Sem cor
No céu,
Silêncio

Nasce um dia
Morre uma noite
E o duelo se
Perdura
Se
Eterniza

Seus passos
Ecoam
Pela rua, como uma
Garagem
Trancada, isolada
Dentro deste tudo,
Separada por paredes

Não se ouve sua voz
Mas continua a
Falar
E há de continuar,
Até que sua lua se vá
Igual a noite,
Que morre, para o dia
Nascer

Tuesday, February 22, 2005

Encontrei algo bem apropriado...

Working class hero (John Lennon)

As soon as you´re born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

They hurt you at home and they hit you at school
They hate if you´re clever and they despise a fool
Till you´re so fucking crazy you can´t follow the rules
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

When they´ve tortured and scared you for twenty odd years
Then they expect you to pick a career
When you can´t really function you´re so full of fear
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

Keep you doped with religion and sex and TV
You think you´re so clever and classless and free
But you´re still fucking peasants as far as I can see
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

There´s room at the top they telling you still
But first you must learn how to smile when you kill
If you want to be like the folks on the hill
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

If you want to be a hero well just follow me
If you want to be a hero well just follow me

Monday, February 21, 2005

Mocinhos e bandidos - a vida real

Tudo está relacionado com pontos de vista. A maneira como enxergamos as coisas afeta o que seria a nossa concepção de realidade. Realidade pode não ser um conceito certo, mas uma forma de identificar o que existe a partir dos olhos que estão dispostos em frente a ela – às vezes até mesmo distantes. Se acharmos que estamos passando uma maré difícil, com certeza vamos acreditar que nada está a nosso favor. E o mesmo ocorre do outro lado. Não crer em barreiras intransponíveis ajuda, e muito. Se você acredita numa coisa e não quer saber se aquilo é difícil, e se corre a tas para derrubar tudo, acaba conseguindo – ao menos muito mais facilmente do que esperando sentado dizendo que o mundo é cruel.
Vejo pessoas dizendo que o mundo vai de mal a pior. Que estão pra baixo, em depressão, ou de qualquer forma que seja uma pista de que elas não foram escolhidas por alguma divindade e que sua missão no mundo seria sofrer, apenas. Isso, a meu ver, é uma forma de se esquivar da realidade, de se esconder atrás de uma cortina, para que estejam em paz sem as cobranças do cotidiano de uma pessoa que segue sua vida. Isso tudo se baseia no medo – mais uma vez prego que é o nosso maior problema. O medo de escolher errado, de não saber o que fazer, que rumos tomar, faz com que muitos se sintam inseguros, lógico. Muito é exigido de nós, mas pouco nos é explicado. Para que a vida, para que a morte, em que/quem devemos acreditar, qual seria a religião definitiva etecétera e tal. Quando tínhamos alguém para nos dizer todas as respostas certas estávamos mais felizes, não é menos que as crianças geralmente são mais felizes que os adultos. Elas não acreditam em tudo e não precisam buscar suas próprias respostas. Mas não existem respostas fáceis ou definitivas.
Podemos perceber nitidamente a aplicação deste conceito no caso dos fanatismos. Pessoas que não fazem a menor idéia de para que isso tudo e mais um pouco tendem a ser absurdamente apegadas a alguma coisa. Religiões, times e etc novamente. Isso tudo não serve para nada, a não ser para juntar indivíduos que se sentiriam sozinhos e sem nexo jogados pelas terras vazias e sujas se não fosse um grupo que busca junto com ele por um ideal, mas esse ideal é inventado. Busca-se o que está mais próximo, na maioria das vezes. Qual a sua religião? A maioria das pessoas diria que é a mesma dos pais ou de familiares próximos. Qual o seu time? A resposta seria a mesma na maior parte dos casos. Enxergamos aqui uma nítida prova de que o que se busca é acreditar em algo que pareça valido e real, conclusivo. Algo que acabe de uma vez por todas com a nossa busca por um sentido. Para que eu precisaria correr atrás do sentido da minha vida se meus pais e meus professores já o sabem e me disseram quando eu era pequeno? É assim que muita gente age, sem se dar conta da gravidade do quadro e até mesmo da existência do problema.
A depressão, por exemplo, é uma forma de dizer “eu tenho problemas e não posso de forma alguma tomar decisões importantes, minha vida é uma porcaria e é assim que vai ser”. Essa auto-exclusão da realidade, pintando o exterior de cruel e maligno é que faz tudo ir para o lado errado. É uma saída, uma tentativa de escapar da responsabilidade de buscar o seu lugar e, errando e aprendendo – e isso leva tempo, além de dar muito trabalho -, se encontrar finalmente. Há aquela dúvida “será que existe um lugar para mim? E se não existir?”. Por conta disso nasce a necessidade de se esconder.
Ao olhar para as pessoas que estão caminhando para frente, aqueles que sabem muito bem a que fazem parte, se ele está no lugar certo, pode ter certeza de que teve que tomar decisões. Muitas delas duras e assustadoras em um primeiro momento, mas é aí que entra a tão sonhada coragem. Queríamos ser iguais aos heróis da TV, mas não achávamos que era possível. É sim. Não só é possível, como nessa história quem está preso no esconderijo do bandido é você. Não existe impossível. De uma forma mais ampla, não existe o tal do impossível na maior parte dos casos. O que é a nossa falta de confiança na capacidade que temos.

Friday, February 18, 2005

Com a palavra.. Ella

“Tu és o arquiteto de teu próprio destino. Trabalha, espera e ousa.”

- Ella Wheeler Wilcox (1850-1919)

Wednesday, February 16, 2005

"Espero o dia passar..."

Cinco horas da tarde, do dia dezesseis de fevereiro de dois mil e cinco. No som toca uma música da extinta banda Penélope, numa busca por saber como é a voz da menina – pessoalmente milhares de vezes mais bonita e atraente do que parece.. principalmente quando ela fala com você - que está para iniciar sua carreira solo, como mostra o caderno de cultura do jornal – não vou dizer qual. Disquetes, CD´s virgens, pedaços de papel , balas de mel-própolis-gengibre, uma caneta preta e uma caixa de lenços de papel fazem companhia ao computador, espalhados na mesa, enquanto este texto é escrito. Nos cd´s encontramos Debut, da Björk, Billie Holiday, o Réquiem, de Mozart, algumas sonatas beethovianas para piano, Elvis Presley com sua póstuma coletânea de mega-sucessos, Chopin, sozinho ao piano – ok, ele escreveu, mas quem gravou foi outro cara.. não imagino outra forma, uma vez que ele morreu em 1849.. Chopin, não o cara que gravou – fora outros CD´s, mas já me cansei de citar nomes, isso aqui não é uma lista ou mesmo o Sonar, do Segundo Caderno. Ok, só para mencionar, Sgt. Peppers não poderia deixar de ser lembrado, seria um absurdo! Muito menos As Quatro Estações, de Vivaldi – que Sandy & Júnior e Legião usaram o nome para fazer algo muito menos magnífico.. talvez infinitamente menos.
Penso na situação atual da música, dos artistas e o que eles pensam – me considero um também, músico, mas não tenho condições de invadir a cabeça dos outros, por isso fico a imaginar. Muita gente correndo atrás, muita gente com coisa boa, muita gente com coisa ruim, mas ruim mesmo e sem a menor noção de realidade – seria eu um destes?, prefiro pensar que não... Faz parte dos sonhos de cada um encontrar algo a que possa se agarrar e se jogar com força e alma, por completo. Mas não basta encontrar, porque muita gente já achou e não percebe possibilidade alguma de poder seguir seu caminho. É triste. Por enquanto vamos correndo atrás das nossas ideologias, ao menos até o dia em que nos decepcionemos por completo e plantemos aquela velha frase que diz que “esse mundo não presta!”
Bom, acredito que ele preste sim, embora não para todos. Para os que merecem? Não diria assim, mas diria que para os que estão no lugar certo, ou vão atrás de tal lugar.
OBS: Fiquei espantado de ver que o “White Stripe” Jack White – vale lebrar que é roqueiro - produziu um CD de música Country que recebeu um Grammy! Estranhíssimo isso. Parece ser um que busca seu caminho – ele também está presente em cinco músicas da trilha do filme Cold Mountain, em outro estilo completamente diverso.

Friday, February 11, 2005

E mais Fernando Pessoa

Ameaçou Chuva

Ameaçou Chuva. E a negra
Nuvem passou sem mais...
Todo o meu ser se alegra
Em alegrias iguais.
Nuvem que passa... Céu
Que fica e nada diz...

Vazio azul sem véu
Sobre a terra feliz...

E a terra é verde, verde...
Por que então minha vista
Por meus sonhos se perde?
De que é que a minha alma dista?

Monday, February 07, 2005

Ninguém escapa

Andei pensando em diversas pessoas. Como elas são, como elas encaram a vida e como elas se relacionam. Família, amigos, conhecidos, pessoas famosas e até mesmo eu. Nenhum me pareceu “normal”. Nem mesmo os mais inteligentes. Aliás, principalmente esses.

Friday, February 04, 2005

O teatro da vida

Sabe qual é o grande problema da vida? Todos os objetivos, as realizações e os significados são inventados, e além disso, como se não bastasse, a nossa mente também cria dificuldades e perturbações que nos causam insatisfações. A vida é um teatro onde um bom ator é aquele que interpreta seu papel tão bem que se sente seu próprio personagem.

Tuesday, February 01, 2005

Passeando pelo séc. XVIII

Depois de entrar em uma das melhores livrarias do Rio, sem um rumo específico que não o de me inserir naquele infinito de possibilidades diversas, vaguei curioso. Olhava para todos os livros que estavam em meu caminho, como se buscasse por um – na verdade buscava, mas por uns instantes preferi o acaso – até que, cercado de beleza e riqueza por todos os lados, notei um livro com o qual já havia paquerado antes. A mais recente biografia de Beethoven estava ali, em cima de uma mesa largada na desordem – algo provavelmente proposital, para que um funcionário viesse depois e arrumasse todos aqueles variados títulos – olhando para mim, enquanto eu olhava para ela. Não me envergonhei da troca de olhares e fui para o ataque.
Assim que peguei o livro – que atiça com seu peso e volume de páginas – notei que havia duas poltronas perto de onde estava. Uma delas estava ocupada por um senhor de uns prováveis setenta anos que lia descompromissadamente um livro da loja, a outra ainda estava vazio – por pouco tempo. Sentei-me na poltrona, coloquei minha jaqueta preta no braço dela e comecei a folhear o livro. Bem, na verdade não estava disposto a folhear, queria mesmo era lê-lo por inteiro. Fui para o prólogo. Li-o por completo e passei para o primeiro capítulo, sem jamais me esquecer de volta e meia vigiar com o rabo do olho para me certificar de que não havia problema nenhum com isso. Passava um funcionário com bastante freqüência, mas ele nem se importava. Gosto desse tipo de estabelecimento, que se preocupa em deixar o cliente à vontade – à vontade o suficiente para abrir a carteira e gastar tudo o que tem depois de tanto conforto “gratuito”.
O trecho do livro que li mostrou que Beethoven teve problemas ainda aos dezesseis anos, quando fora para Vienna, para ter aulas com Mozart. Mozart era considerado fenômeno absoluto, embora Haydn tenha sido o mais famoso em toda a Europa – a volume da obra deste me parece incrível, se compararmos as nove sinfonias de Beethoven com as pelo menos oitenta deste. Na cidade provinciana onde Beethoven morava desde seu nascimento, Bonn, ele já era considerado o segundo Mozart. Mas infelizmente o menino teve que voltar pouco após arrancar elogios de seu novo mestre, como “olhe só para este menino e veja como ele toca, um dia ele vai curvar o mundo aos seus pés”. A mãe de Beethoven adoecera e logo após seu retorno foi vencida pela doença.
Beethoven agora sendo o único para cuidar de seus outros dois irmãos – eram três, mas dois meses após a morte da mãe, uma irmã de menos de dois anos morrera também. Seu pai era um alcoólatra conhecido pelo fracasso, tanto como pai como na carreira de violinista. Beethoven teve dificuldades financeiras para sustentar a si mesmo e a seus irmãos e, quando finalmente poderia retomar suas aulas com o mestre Mozart, agora esse é quem se despedira deste mundo.
O livro também traz cartas escritas por Beethoven, como por exemplo uma carta em que ele agradece um bordado feito por uma admiradora sua, uma pequena pianista de apenas dez anos de idade. Na carta ele a trata como uma pessoa bastante querida, embora nunca a tivesse visto, afirma que todos que são seus parentes agora são seus amigos também e se mostra como um homem modesto – já na fase mais madura de sua carreira, tendo composto a oitava sinfonia. Ele afirmara que, embora outros admirassem sua arte, um músico de verdade nunca estava satisfeito com o ponto em que está, sendo sempre impulsionado por aquilo que ainda não foi capaz de fazer.
Beethoven me encheu de orgulho. Queria muito o livro, mas ainda não era a hora. Tenho muitos livros ainda na lista de espera, mas este em breve encontrará o seu espaço na minha mesa de cabeceira. Coloquei o livro de volta na mesa bagunçada, passei de mãos vazias em frente à caixa e saí da loja. Plenamente satisfeito.