Monday, February 21, 2005

Mocinhos e bandidos - a vida real

Tudo está relacionado com pontos de vista. A maneira como enxergamos as coisas afeta o que seria a nossa concepção de realidade. Realidade pode não ser um conceito certo, mas uma forma de identificar o que existe a partir dos olhos que estão dispostos em frente a ela – às vezes até mesmo distantes. Se acharmos que estamos passando uma maré difícil, com certeza vamos acreditar que nada está a nosso favor. E o mesmo ocorre do outro lado. Não crer em barreiras intransponíveis ajuda, e muito. Se você acredita numa coisa e não quer saber se aquilo é difícil, e se corre a tas para derrubar tudo, acaba conseguindo – ao menos muito mais facilmente do que esperando sentado dizendo que o mundo é cruel.
Vejo pessoas dizendo que o mundo vai de mal a pior. Que estão pra baixo, em depressão, ou de qualquer forma que seja uma pista de que elas não foram escolhidas por alguma divindade e que sua missão no mundo seria sofrer, apenas. Isso, a meu ver, é uma forma de se esquivar da realidade, de se esconder atrás de uma cortina, para que estejam em paz sem as cobranças do cotidiano de uma pessoa que segue sua vida. Isso tudo se baseia no medo – mais uma vez prego que é o nosso maior problema. O medo de escolher errado, de não saber o que fazer, que rumos tomar, faz com que muitos se sintam inseguros, lógico. Muito é exigido de nós, mas pouco nos é explicado. Para que a vida, para que a morte, em que/quem devemos acreditar, qual seria a religião definitiva etecétera e tal. Quando tínhamos alguém para nos dizer todas as respostas certas estávamos mais felizes, não é menos que as crianças geralmente são mais felizes que os adultos. Elas não acreditam em tudo e não precisam buscar suas próprias respostas. Mas não existem respostas fáceis ou definitivas.
Podemos perceber nitidamente a aplicação deste conceito no caso dos fanatismos. Pessoas que não fazem a menor idéia de para que isso tudo e mais um pouco tendem a ser absurdamente apegadas a alguma coisa. Religiões, times e etc novamente. Isso tudo não serve para nada, a não ser para juntar indivíduos que se sentiriam sozinhos e sem nexo jogados pelas terras vazias e sujas se não fosse um grupo que busca junto com ele por um ideal, mas esse ideal é inventado. Busca-se o que está mais próximo, na maioria das vezes. Qual a sua religião? A maioria das pessoas diria que é a mesma dos pais ou de familiares próximos. Qual o seu time? A resposta seria a mesma na maior parte dos casos. Enxergamos aqui uma nítida prova de que o que se busca é acreditar em algo que pareça valido e real, conclusivo. Algo que acabe de uma vez por todas com a nossa busca por um sentido. Para que eu precisaria correr atrás do sentido da minha vida se meus pais e meus professores já o sabem e me disseram quando eu era pequeno? É assim que muita gente age, sem se dar conta da gravidade do quadro e até mesmo da existência do problema.
A depressão, por exemplo, é uma forma de dizer “eu tenho problemas e não posso de forma alguma tomar decisões importantes, minha vida é uma porcaria e é assim que vai ser”. Essa auto-exclusão da realidade, pintando o exterior de cruel e maligno é que faz tudo ir para o lado errado. É uma saída, uma tentativa de escapar da responsabilidade de buscar o seu lugar e, errando e aprendendo – e isso leva tempo, além de dar muito trabalho -, se encontrar finalmente. Há aquela dúvida “será que existe um lugar para mim? E se não existir?”. Por conta disso nasce a necessidade de se esconder.
Ao olhar para as pessoas que estão caminhando para frente, aqueles que sabem muito bem a que fazem parte, se ele está no lugar certo, pode ter certeza de que teve que tomar decisões. Muitas delas duras e assustadoras em um primeiro momento, mas é aí que entra a tão sonhada coragem. Queríamos ser iguais aos heróis da TV, mas não achávamos que era possível. É sim. Não só é possível, como nessa história quem está preso no esconderijo do bandido é você. Não existe impossível. De uma forma mais ampla, não existe o tal do impossível na maior parte dos casos. O que é a nossa falta de confiança na capacidade que temos.

1 comment:

Rodrigo Santiago said...

Conheço pessoas que tem tantas destas crenças bobas, e que fizeram muito mais do que quem não tem.

A única coisa que pode ser dita sobre quem as têm é que vivem.

Algumas se apóiam em verdades conclusivas dos pais para fazer algo extremamente valoroso pra humanidade. Outras se servem de suas frustrações pra realizar atos heróicos em outras áreas. É o caso do cobertor curto. Eu faço o que posso, e já que não encontro todas as respostas, então resolvo admitir algumas verdades que me sejam convenientes, e sigo em busca do que realmente me interessa. Se não há verdades úteis ou convenientes, e eu não quero desperdiçar energia com isso, então é sinal de que o assunto não me é relevante.