Monday, November 29, 2004

Fora de controle

Dizem que se você deixar a vida se consome e você nem percebe. Que quando ela passa tanto pode fazer um aceno, como esperar que você chame a atenção dela. Todavia eu não estou muito interessado em reflexões muito profundas hoje, não. Quero apenas divagar, sem arrancadas bruscas. Apenas contemplar. Meus próprios pensamentos me levam para um passeio onde quer que eu esteja. Um passeio por entre os espaços aparentemente vazios da casa, do jardim. Pelas ruas das quais eu me encontro distante. Eles muitas vezes parecem adquirir uma vida só deles, da qual eu não tenho o controle. Nesses momentos – como é o caso agora – sirvo a eles como um mero operário – não desmerecendo de forma nenhuma a profissão de muitos dos que constroem, com base no árduo suor, o nosso país; estou limitando minha função aqui. Guilherme, venha para cá. Agora vá para lá.
Senti uma pontinha de vontade de direcionar o texto para uma análise das relações sociais e existências das formigas, mas meus planos foram rejeitados. Insisto! Não, nada. Nem ao menos uma outra frase sobre esse assunto.
A garrafa de vodca à minha esquerda me trás diversas lembranças, entre elas o fato de que eu bebo mais água do que qualquer pessoa que eu conheço. Na verdade ela está cheia d´água e isso já faz tampo. Tenho o costume de beber água enquanto leio, antes de dormir, ao acordar, ao passar pelo meu quarto para trocar de roupa, antes de ligar para alguém... Para qualquer canto que eu vá eu levo a minha garrafa. Quem olha acha que eu sou um alcoólatra, mas eu me divirto com isso. Um momento, vou beber um gole.. um pouco mais, foram cinco. Sou de peixes, será que existe alguma relação com isso?
As árvores lá fora estão tocando uma sinfonia feita pelo toque. Um momento de carícia mútua entre as plantas, graças ao vento que trouxe a chuva forte de hoje à tarde. Mas aqui eu também não posso me aprofundar. Não tenho permissão para entrar neste assunto. Neste e em qualquer outro. Hoje eu só posso relaxar, aproveitando a minha mania de ficar acordado o maior número de horas quanto for possível, para que eu aproveite melhor o dia – no caso, do sol e da lua. Já está tarde e amanhã eu preciso acordar cedo. Na verdade nem preciso, mas me forço, porque para mim, nesse momento, se mostra como uma necessidade. Uma boa noite inútil para todos. Que ela seja mais rica que qualquer noite em claro com os olhos ardendo em frente ao computador.

Friday, November 26, 2004

Como poucas coisas na vida

Gosto da escuridão. Me fascina apagar as luzes e dar um basta ao cotidiano caótico. Andando pela casa, escovando os dentes ou deitado na cama a refletir. No escuro tudo faz mais sentido. Não existe pressa, exigências ou qualquer coisa que seja. Só existem eu e o nada, eu e o escuro. As paredes e os móveis ganham um novo sentido, uma outra vida mais serena. Não ouço gritos, telefones tocando ou buzinas malucas. Escuto o som das árvores, quando o vento nelas se esbarra. Pessoas guardando caixas e arrumando salões após as festas. E uns freqüentes - mas nem tanto - carros passando nas ruas.
Fico quieto imaginando os sons que vêm de fora, ao longe, tão distantes quanto a minha imaginação puder se deixar levar. No silêncio, e iluminada pelas sombras e pelos reflexos, a noite ganha o seu charme, propiciando um encontro sincero e justo – além de merecido – de nós mesmos com os nossos próprios pensamentos. Esse é o tipo de coisa que não costumamos valorizar, simplesmente porque nem sempre nos lembramos que esses momentos ainda existem. A rotina nos toma o tempo e a atitude de tal jeito que deixamos muita coisa para trás.
Isso me faz lembrar de uma menina que eu até hoje não consegui entender, tamanha a diferença entre cabeças. Certa vez, ao declararmos nosso amor pela arte do cinema, disse a ela que quando saio de um filme muito bom – tão bom que eu entro nele -, ao voltar para o mundo real, não consigo me desprender por completo, e que eu sentia falta de algo que uma vida normal não seria capaz de suprir. Ela, então, me presenteou com uma resposta inesperada. “Não tenha uma vida normal!” Essa frase ficou de tal forma marcada em minha memória, que eu acredito ter sido esse o motivo de nossas vidas terem, por um curtíssimo espaço de tempo, se mirado. Isso e - claro, como poderia me esquecer - a boca mais saborosa que eu já encontrei.

Monday, November 22, 2004

Retrato de uma Sociedade - me digam onde está esse tal de progresso

"I see the strongest and the smartest men who ever lived. I see all this potential.. I see it squandering. God dammed an entire generation pumping gas.. waiting tables. Slaves with white collars. Advertising has its taste in car and clothes.. working jobs we hate so we can buy shit we don´t need. We´re the middle children of history, man. No purpose and place. We have no Great War.. no Great Depression. Our Great War is a spiritual war. Our Great Depression is our lives. Born and raised on television to believe that one day we´ll all be millionaires, movie gods and rock stars.. but we won´t. We are slowly learning that fact. And we´re very, very pissed off."

- Tyler Durden (personagem interpretada por Brad Pitt no filme Clube da Luta)

Sunday, November 21, 2004

Quem é bonzinho aqui?

Estudando sobre a Revolução Americana, achei muito interessante um pedaço em que, além da empolgação pelos acontecimentos – que lembram superproduções cinematográficas -, encontramos uma verdadeira síntese da essência humana. O texto que se segue, escrito por Rodrigo Bueno de Abreu (“todos os direitos reservados por Curso PH Ltda”), tem como pano de fundo os conflitos entre a Inglaterra e suas colônias americanas, uma vez que, entre outros fatores, a arrogância Inglaterra em repassar os enormes gastos da Guerra de Sete Anos (contra a França) para as colônias; por meio de uma série de taxas alfandegárias – também podemos lembrar que a Inglaterra não tinha como costume importunar a vida das colônias, mantendo por muito tempo certo sentimento de indiferença à elas.

Guerra de Independência

No princípio da guerra, os ingleses levaram a melhor porque estavam com tropas profissionais, lutando contra milicianos mal armados e mais preocupados com suas colheitas do que com o desenrolar da guerra de independência. Em pouco tempo as principais cidades americanas caíram nas mãos dos ingleses. A situação se agrava mais ainda, devido ao bloqueio imposto às cidades litorâneas pela marinha de guerra inglesa. No entanto, a partir de 1778, a participação direta da França na luta alterou o desenrolar da guerra. A França colaborou com armas, mantimentos, munições, recursos financeiros e até com um determinado número de soldados, no esforço americano para derrotar sua antiga metrópole. Além da França, outros países acabaram se envolvendo contra a Inglaterra, na medida em que os ingleses apresavam qualquer navio neutro que procurasse entrar na América sem sua permissão. Assim, Holanda, Espanha, Dinamarca e até mesmo a Rússia viram-se envolvidas no conflito (estes diversos países formaram a “Liga da Neutralidade Armada”) e começaram a responder militarmente às violências inglesas nos mares.
Lutando em terras estranhas e combatendo na América, no Mediterrâneo, nas Antilhas e em outras regiões devido à participação de franceses, holandeses e espanhóis no conflito, gradativamente a Inglaterra foi perdendo terreno. Finalmente, em 1781, a Inglaterra foi definitivamente derrotada pelos americanos. Em 1783, pelo Tratado de Paris, a Inglaterra reconhecia a independência de suas antigas colônias, que passaram a ser reconhecidas pelo nome de Estados Unidos da América.

Mais uma vez temos um grande exemplo de que esse negócio de democracia e amizade entre povos se faz por causa do dinheiro – nosso grande câncer. Nada acontece de graça em política, pode esquecer. A ganância por mais está sempre presente. Guerras, acordos entre povos, o sonho destruído que a Igreja Católica tinha de manter a Bíblia em latim e distante da compreensão popular – antes disso ela ainda tentava manter o povo analfabeto, não autorizando sua entrada nas bibliotecas, teoricamente “sagradas”. Tudo isso cheira dinheiro, poder. Um poder fedido, que Jesus nunca aceitaria para si mesmo. Tenha os seus amigos, acredite em ideais e siga a sua fé. Mas não espere que aqueles que encontrar sejam transparentes. As pessoas têm medo. Medo de tudo. E por causa disso usam máscaras.
Isso tudo me leva a um acontecimento recente, a morte do economista Celso Furtado. O Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Lula, decretou luto oficial de três dias e fez a seguinte declaração: “Perco um amigo, mas guardo seus ideais”. Se você é um jornalista bem sucedido internacionalmente e faz uma crítica ao Presidente, você é expulso do país – é, ele está aprendendo com o Bush, candidato americano à reeleição (!) que ele apoiou recentemente -, mas se você é amigo dele, ao morrer você tem o direito de um luto oficial de três dias. Estou pensando seriamente em me tornar amigo do Lula. Quem sabe, um presentinho de Natal?
Nada mais me espanta nessa sociedade que comemora o nascimento do menino Jesus (marcando presença no texto de hoje!) com um feriado mundial que se baseia no lucro, com nozes em pleno verão, um refrigerante delicioso que criou um mito infantil e gordo – concorrente da Igreja, que deve arrancar os próprios cabelos quando ouve uma doce e ingênua criança dizer que Natal é dia de Papai Noel - e animais mortos enfeitando as mesas das classes economicamente mais privilegiadas.

Friday, November 19, 2004

Escrito em 22/10 e retrabalhado em 19/11

Um tiro

Um tiro. Na verdade foi isso o que me ocorreu. Bem no peito. Como um alvo fácil, pronto para ser detonado, eu estava lá e não me movi. Talvez tenha sido bom assim. Após a minha morte eu pude ressurgir, renascer a partir das cinzas que, acreditava eu, seriam o meu fim. Mas, fim? Isso não existe, ou ao menos nisso eu não acredito mais. Acredito em transformação. Da mesma forma que eu antes acreditava no amor – algo totalmente passageiro, mas que dura quando da na telha, e, ao meu ver, merecedor de debates na TV, muito mais que as eleições; desisti de tentar encontrar sinceridade nestes.
Não tento ser cruel ou triste, mas fatalista e sincero. Sim, tudo se baseia em fatalidades por aqui. Não outros mundos – podemos criar outros, não é verdade? – mas este aqui o é. Qualquer coisa que seja da forma que é, podemos dizer: “isso é fato”.
Vejo pessoas tristes à minha volta, não porque eu ando por entre pessoas piores que as outras, mas porque me parece que estão todos enxergando que o mundo se encontra em estado de putrefação. Estaria mesmo, ou isso seria apenas um ponto de vista bastante pessimista? Eu pessoalmente – notem que é uma opinião minha, vocês podem discordar; aliás, como tudo o que eu digo e todos os outros também... – sinto que tudo depende do ponto de vista. E de ocupação, claro. Porque se você olha para uma pessoa que sofreu um acidente grave mas se salvou da morte. Você pode ter duas opiniões completamente diferentes. Você pode pensar que essa pessoa teve uma sorte danada por ter sobrevivido, ou ter apenas pena e se lamentar que essa pessoa agora tem seqüelas. Seqüelas são ruins sim, péssimas. Mas morrer é muito pior. Quero deixar bem claro que não descarto a idéia de vida após a morte como uma evolução, mas podendo deixar para depois eu acho melhor.
Outros têm o costume de me infernizar com freqüentes frases pré-suicídio-encenado, como “eu não me importaria se eu morresse”. Sei, está bem. “Então você vive para nada?!” – gostaria de perguntar a essas pessoas. Que pensamento mais quadrado! Não é possível que se tenha capacidade de criar coisas tristes e ruins e nenhuma capacidade para celebrar a vida... Aqui estamos nós! Olhem para cá! Esqueçam um pouco o teatro e vivam o presente, porque é nele que se está, sempre. Amo o teatro, mas o ideal é que ele mate personagens e não pessoas reais. Ele deve ser usado para preencher a vida com infinitas cores. Para enriquecer. Se algo não te faz feliz, por que não mudar um pouco os seus hábitos, a começar pelo modo como encara cada dia novo que surge? Voltando ao outro parágrafo, amor é a percepção de que alguém, ou alguma coisa, teria uma capacidade em potencial de fazer você se sentir bem – feliz, amado, realizado, etc. O problema é quando se enxerga errado. E é aí que o “amor” machuca...

Tuesday, November 16, 2004

Vozes, gritos, um vazio...

Vozes gritando
Ao redor da minha cabeça
Por todos os lado
De onde viram?

Com as mãos calejadas e
Queimadas pelo fogo
A pele ainda em brasa
Ignoro a dor – ao menos tento

Num esforço sobre-humano
Faço-me crer que não é nada
Que é apenas mais uma etapa
Mas nada muito certo

Encenação teatral
Enganando a mim mesmo
Uma personagem
Mais uma máscara

Envolto em uma energia negativa, que mais parece buscar forças do além,
procuro, mas não encontro.
Estaria louco?
Ou este é mais um daqueles sonhos, refletindo os nossos medos da forma
mais fantasiosa possível?

Eu é que não sou bobo
Aqui eu não fico
Tem alguém aí?...

Tem alguém aí?...

Tem alguém aí?...

Reflexos
Ecos
Solidão
Medo e tristeza

De certa forma, algumas vezes me parece que o vazio pode fazer bem
Você ali, sozinho com você mesmo...


...até que surge o seu maior pesadelo...

Sunday, November 14, 2004

Escravos contemporâneos

Outro dia, em uma conversa entre amigos, disseram que seria melhor estar morto a ser escravo. Seria? Bom, eu, ao menos, discordei. Em um primeiro momento – tive que justificar o meu ponto de vista, claro – abordei o seguinte fato: quem está morto não faz sexo. Não que a vida, diferente do que pensam alguns, se resuma a isso. Mas quem está morto não pode usufruir de nada que esta vida ainda pode vir a oferecer. O sexo, o amor, a brisa fresca em um dia abafado – uma boa chuva! -, o caldo de feijão da tia Joana, o Blues, a capoeira – olha os escravos aí - ... pode esquecer, você morreu. Toda a cultura criada pelos escravos só se tornou possível porque eles resistiram. Imagina se eles fossem suicidas! Eles acreditaram – haja fibra, esses homens merecem o nosso respeito -, lutaram, se rebelaram. Eles enxergavam que havia muito mais e que tudo era possível – ainda é. Poucos se libertaram, é verdade, mas foi preciso que se acreditasse.
O que me parece interessante é que se fala muito da escravidão dos escravos óbvios, mas pouco se discute a escravidão global que move o mundo contemporâneo. Você se acha livre? Mesmo? Pense bem... me desculpe, mas, seja você quem for, te digo que livre você não é. Dinheiro, cultura, padrões, medo de preconceito, a educação do atual sistema de – que forma cópias dos que não foram cópias – e outros infinitos e incontáveis fatores, conduzem a nossa vida dentro de um sistema de completa escravidão.
Eu sei que isso vai te desapontar, mas vou acabar este texto sem concluí-lo. Não quero me tornar escravo dele – embora prefira isso a não poder escrever.

Friday, November 12, 2004

O Palhaço

Triste, ele sorri para afastar
A dor
Enquanto distrai o amor
Que lhe presenteia com freqüentes
Facadas
Insensíveis e sem cor

No rosto maquiado desce
A lágrima
Este rosto desmanchado
Cansado por tanta lástima

As bolas coloridas são seus artifícios
Que a ilusão de outra realidade faz surgir
Quando do sonho estão presentes resquícios
E a consciência teima em não dormir

O palhaço vem para alegrar
Aquele que pode ouvir
O silêncio que aos prantos
Ninguém mais quer ouvir

Wednesday, November 10, 2004

Mas que angústia, esse amor

Projeto nela a ilusão do
Amor perfeito
Um dia após o outro
Infinitos e rarefeitos

Mas só encontro
Medo
Incerteza
Insegurança – um desencontro

Minhas batidas, agora
Com uma pulsação rítmica disforme,
Dominam a rotina
Que se fora
Deixando a aventura

Novamente o medo
- o mais podre dos sentimentos –
Controla meus atos e
Decide o meu futuro

Tão pequeno isso!
Um pouco de ar...

Minha querida,
Como seria fácil sem você!
Seria mais simples
Mais medíocre
Monótono

Os dias sempre iguais
O mundo tão vazio
E eu a te sonhar

Dois poemas da noite

Escrevi estes dois poemas ao som de "Blue Valentine", do Tom Waits.

Reluzente, uma sombra de vida

Uma fumaça
Um cigarro
Uma música na vitrola toca no ritmo do meu silêncio

A falta que ela me faz
É como a consciência de que
Nunca a tive
Presente; mas ainda ei de tê-la!

Não se lembra mais daqueles momentos que ainda não tivemos?

Mais um cigarro deixa suas cinzas
E sufoca o ar com charme e textura
Não são meus
Como também não são meus os teus olhos, lindos à brilhar mais fortes a cada dia que te vejo

A sua pele
Sinto junto à minha
Como aquela leve brisa, que toca sem que possa agarrada

Lanço minha mão contra você, mas não chego a lugar algum
Parece que a distância é sempre maior
Perto apenas na aparência

À primeira vista parecemos feitos para amar
Mas o amor traz o sofrer
E eu sofro por ter você tão perto
Tão perto que eu tenho medo de esbarrar, tropeçar, e
Como uma bomba fantasma destruir toda a harmonia
Que você me dá ao fazer parte do meu dia

No meio do meu caminho você entrou
E eu me recuso a desviar

Quando as águas turvas
E o dia mais parece noite
Seus olhos emitem uma luz
Que eu enxergo, mas não sei ao certo onde está



Espairecendo – nada de lágrimas vagabundas

Os restos
O lixo
Todo o mofo
Levam o amor contido em cartas baratas
Cartas que simbolizam o eterno desprezo pelo futuro

Rasgados
Os reflexos do passado vêm a tona
Para perturbar
E para isso, somente

Ou talvez não
Eles querem falar
Pois que falem sozinhos, não quero mais ouvir

Quero paz
Silêncio, vazio
Nadar no ar que me leva como a água
Corrente, forte

Nada de limites, apenas quero ser levado
Perder o controle da situação

Medo
Serve como uma porta, fechada
Uma tranca que distancia toda a realidade
Boa e má
Quando na verdade
Não existe nem lá, nem cá

Monday, November 08, 2004

Garganta

Nada pode
Ser
Mais desprezível
Que a dor

Uma faca em meu
Pescoço
Cerceia minhas
Capacidades

Sua ponta
Faz-me estremecer
Ao senti-la
Perene

Sem saída
Apenas esperanças
Sem alternativa
Sem solução

Sunday, November 07, 2004

"1492 - A descoberta do paraíso"; de Ridley Scott

"A vida tem mais imaginação do que sonhamos..."

- Cristóvão Colombo

Pearl Jam, do CD "Riot Act"

Bushleaguer (Eddie Vedder / Stone Gossard)

How does he do it? How do they do it? Uncanny and immutable.
This is such a happening tailpipe of a party.
Like suger, the guests are so refined, (look like melting m&ms)

A confidence man, but why so beleaguered?
Hes not a leader, hes a Texas leaguer.
Swinging for the fence. Got lucky with a strike.
Drilling for fear. Makes the job simple.
Born on third. Thinks he got a triple.

Blackout weaves its way through the cities.
Blackout weaves its way through the cities.
Blackout weaves its way…

I remember when you sang
that song about today.
Now its tomorrow and
everything has changed.

A think tank of aloof multiplication.
A nicotine wish and a Columbus decanter.
Retrenchment and hoggishness.
The aristocrat choir sings,
“What´s the ruckus?”
The haves have not a clue.
The immenseness of suffering,
and the odd negotiation, a rarity.
With onionskin plausibility of life, ….
and a keyboard reaffirmation.

Blackout weaves its way through the cities.
Blackout weaves its way through the cities.
Blackout weaves its way…

I remember when you sang
that song about today.
Now its tomorrow and
everything has changed.

Saturday, November 06, 2004

Implicante, reflexivo e até.. engraçado

"Tenho uma opinião sobre tudo. Ao longo dos anos, notei que minhas melhores opiniões são aquelas em que desconheço completamente o assunto. Já me flagrei dando quatro ou cinco opiniões contraditórias sobre o mesmo tema. O que importa num profissional da opinião, como eu, não é o grau de fidelidade a uma idéia, mas a capacidade de defender duas coisas opostas ao mesmo tempo. E nisso eu sou um mestre. Houve um tempo em que eu não era desse jeito. Tinha poucas opiniões sobre poucos assuntos. Eram opiniões firmes, categóricas, que não admitiam réplicas. Podia-se notar em mim um certo fanatismo. Depois comecei a ganhar dinheiro com minhas opiniões. E o que era convicção, virou trabalho. Tornei-me uma pessoa melhor. Mais elástica. Mais livre. Menos pedante. Menos assertiva. Hoje em dia, só dou opinião sobre algo mediante pagamento antecipado. Quando me mandam um e-mail, não respondo, porque me recuso a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma roupa, fico quieto, à espera de uma moedinha. O brasileiro tem opiniões demais. Joga opiniões fora como se não valessem nada. Como se houvesse um estoque infinito de opiniões. A oferta abundante deprecia o mercado. Piora a qualidade do produto. Vivemos num país em que qualquer idiota se sente no direito de disparar suas bobagens, porque ninguém vai se dar ao trabalho de ouvi-las. Eu, por causa do meu trabalho, aprendi a dar um justo valor às minhas bobagens. Elas sempre vêm acompanhadas pelo preço. Elas têm etiqueta e código de barras. Querendo uma, é só tirar da prateleira, botar no carrinho e passar pelo caixa."


- Diogo Mainardi

Friday, November 05, 2004

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de infinito!
Por elmo, as manhãs de ouro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!


- Florbela Espanca



Debate com Hugo Chavez na UFRJ

12:40
Sai da Puc-Rio um ônibus em direção à Praia Vermelha. O ônibus foi pago pela UNI, já que a reitoria da Puc não se sensibilizou quando os organizadores do evento pediram apoio.

14:05
Ao chegarmos, havia um grande número de estudantes em frente à porta principal. Diversos seguranças vieram avisar que não seria possível a entrada na sala do debate; eles tentaram nos agradar dizendo que havia um telão do lado de fora para que pudéssemos assistir em tempo real.
Acontecimentos surreais:
- uma equipe de uns 10 oficiais, com coletes e armas pesadas nas mãos, tentaram intimidar os estudantes;
- como se não bastasse, os a massa estudantil de revoltou contra a UNI, que na verdade era a única instituição a defender o direitos deles, produzindo uma baderna desnecessária.

14:51
Depois de muito esforço e muito blefe - estudantes e seguranças, respectivamente - alguns de nós conseguiram entrar na sala onde ocorreria o debate.

17:08
Cansado de esperar - enquanto éramos tratados com descaso e como ignorantes, pelo chefe da segurança venezuelano -, resolvi que estava na minha hora de ir embora. Seria bom assistir ao debate, mas melhor ado que isso seria se a equipe "responsável" pelo evento fosse composta por profissionais.

ps: o evento estava marcado para as 14h

ps2: enquanto esperávamos, Hugo almoçava com o presidente Lula, um almoço cinco estrelas, pago por todos nós. E com a maior calma do mundo.

ps3: os seguranças levaram 3 horas para liberar os banheiros e a água - não havia nem mesmo água nos bebedouros!

ps4: uma mulher passou mal e ninguém da produção do evento se preocupou em ajudá-la - nós é que lhe demos atenção -, e também não havia nenhum médico responsável no local.

ps5: Não gostei de ver posters com a imagem de Hugo Chavez - em um ele abraça uma criança e, em outro, ele beija as mãos do povo, literalmente - sendo distribuídos como presentes. Isso não tem cheiro de honestidade - estou criticando o fato de terem feito posters que parecem "forçar uma barra", nada contra a política de governo.

ps6: Algum estudante impulsivo quebrou uma das janelas do prédio onde tudo acontecia - na verdade não aconteceu muita coisa...

Thursday, November 04, 2004

Outra canção

Outra canção para tudo
para um novo rumo
para além das guerras,
de onde o precipício assusta

Uma canção para abrir os olhos e o
pensamento
Uma canção capaz de fazer chorar,
para depois sorrir

Uma melodia com força suficiente para
quebrar tudo
que será reconstruído depois,
com certeza
Uma reciclagem

Um movimento
uma ação
um ataque diretamente no ponto certo
exato
que matará tudo que há de podre

Onde está essa canção?

Com certeza está por perto
não será fácil, não
mas ela ainda está por vir

Wednesday, November 03, 2004

Uma canção

Se eu pudesse esquecer
aquilo que perdi
os sonhos que um dia tive
as paixões que até hoje sofri
não o faria

Não gostaria de esquecer
o anseio por um mundo melhor
o sorriso inocente de uma criança
a boa vontade dos que me deram a mão

As traições sentidas
os tombos levados
e os nãos pela vida
Os absorvi, e com eles cresci
Não quero esquecê-los

Não quero a fantasia de um
mundo perfeito
De um conto de fadas
com uma bruxa imoral,
sem sentimentos - no caso apenas ignorados

Quero um mundo de verdade
Quero este mundo
Quero esta vida
Imperfeita como ela é,
me esperando que eu a pegue no colo
e cante uma canção de ninar.