Friday, November 19, 2004

Escrito em 22/10 e retrabalhado em 19/11

Um tiro

Um tiro. Na verdade foi isso o que me ocorreu. Bem no peito. Como um alvo fácil, pronto para ser detonado, eu estava lá e não me movi. Talvez tenha sido bom assim. Após a minha morte eu pude ressurgir, renascer a partir das cinzas que, acreditava eu, seriam o meu fim. Mas, fim? Isso não existe, ou ao menos nisso eu não acredito mais. Acredito em transformação. Da mesma forma que eu antes acreditava no amor – algo totalmente passageiro, mas que dura quando da na telha, e, ao meu ver, merecedor de debates na TV, muito mais que as eleições; desisti de tentar encontrar sinceridade nestes.
Não tento ser cruel ou triste, mas fatalista e sincero. Sim, tudo se baseia em fatalidades por aqui. Não outros mundos – podemos criar outros, não é verdade? – mas este aqui o é. Qualquer coisa que seja da forma que é, podemos dizer: “isso é fato”.
Vejo pessoas tristes à minha volta, não porque eu ando por entre pessoas piores que as outras, mas porque me parece que estão todos enxergando que o mundo se encontra em estado de putrefação. Estaria mesmo, ou isso seria apenas um ponto de vista bastante pessimista? Eu pessoalmente – notem que é uma opinião minha, vocês podem discordar; aliás, como tudo o que eu digo e todos os outros também... – sinto que tudo depende do ponto de vista. E de ocupação, claro. Porque se você olha para uma pessoa que sofreu um acidente grave mas se salvou da morte. Você pode ter duas opiniões completamente diferentes. Você pode pensar que essa pessoa teve uma sorte danada por ter sobrevivido, ou ter apenas pena e se lamentar que essa pessoa agora tem seqüelas. Seqüelas são ruins sim, péssimas. Mas morrer é muito pior. Quero deixar bem claro que não descarto a idéia de vida após a morte como uma evolução, mas podendo deixar para depois eu acho melhor.
Outros têm o costume de me infernizar com freqüentes frases pré-suicídio-encenado, como “eu não me importaria se eu morresse”. Sei, está bem. “Então você vive para nada?!” – gostaria de perguntar a essas pessoas. Que pensamento mais quadrado! Não é possível que se tenha capacidade de criar coisas tristes e ruins e nenhuma capacidade para celebrar a vida... Aqui estamos nós! Olhem para cá! Esqueçam um pouco o teatro e vivam o presente, porque é nele que se está, sempre. Amo o teatro, mas o ideal é que ele mate personagens e não pessoas reais. Ele deve ser usado para preencher a vida com infinitas cores. Para enriquecer. Se algo não te faz feliz, por que não mudar um pouco os seus hábitos, a começar pelo modo como encara cada dia novo que surge? Voltando ao outro parágrafo, amor é a percepção de que alguém, ou alguma coisa, teria uma capacidade em potencial de fazer você se sentir bem – feliz, amado, realizado, etc. O problema é quando se enxerga errado. E é aí que o “amor” machuca...

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