Tuesday, March 06, 2007

Carcomido

Levanta-se. O peso do próprio corpo já ultrapassa o suportável - tantos anos de sedentarismo não poderiam ficar em vão. Tenta alcançar a porta, sua passagem para a liberdade. Sua entrada para o novo mundo, agora que finalmente deixou para trás tudo que carregava em suas costas. Seus sonhos, seus desejos, sua sede. Ah, mas que sede! Era como se nada pudesse pará-lo. Nada era capaz de satisfazer todas as vontades que mantinham este coração vivo e forte, batendo como nenhum outro. E as dores? As dores constantes de sofrer por tudo o que procurava mas acabaria por nunca encontrar, mesmo que achasse.

A idade veio, e com ela a degradação, a fraqueza. Antes era jovem, forte, impulsivo. Agora, não passa de um velho, um defunto, um corpo apenas. Uma peça de museu. Mas, uma peça de museu que tenta alcançar a porta. Com seus dedos finos e já sem pele, com seus ossos à vista, como todo zumbi que tenta ressurgir da morte, ele insiste. E a maçaneta continua tão distante quanto antes. Pensa em desistir. Seria mesmo verdade? Estaria mesmo isto acontecendo com ele? A dor é grande e a sensação é de que, apenas saindo do recinto sombrio e empoeirado, a paz pode chegar.

E ele tenta mais uma vez, com o peso do próprio corpo ultrapassando o suportável.