Saturday, November 21, 2009

Ludwig

De olhos fechados, ele tenta relembrar os sons que antes tinha sempre por perto e hoje se mostram mais distantes do que nunca - e isso é a maior dor que poderia ter em sua vida, talvez mais do que a falta de sorte no amor, que já encara como um fato. Isolado do resto do mundo, está sentado ao piano, imóvel. Quem o visse agora acharia que dormiu - quase um idoso, mas ainda na casa dos quarenta.

Abre os olhos, retorna ao piano e rabisca no papel sua inspiração. Notas e mais notas escritas em uma velocidade impressionante, digna de quem domina a arte. Encosta a cabeça no instrumento enquanto toca, dedilhando tríades repetidas vezes, num movimento simples, quase que minimalista. E a mão esquerda dando as notas graves de sua revolta, sua tristeza, mostrando a distância que está de seus sonhos, deixados para trás para poder encarar a realidade de forma madura.

Possui o dom que muitos sonhariam em ter - se não todos -, e a admiraçao do público, mas isso já não é o suficiente. Dizem que quem conquista seus objetivos sempre segue em frente, em busca de algo mais. Mas para aquele que vive só, a vida se mostra amarga, mesmo no sucesso. Cada dia parece ser apenas mais um na espera por encontrar alguém para poder dividir.