Monday, November 19, 2012

Intolerância (ou Todos Somos Filhos de Deus)

Não aceito mais a intolerância. Soa como um paradoxo, algo dito por alguém que só enxerga seu próprio umbigo - mas me refiro ao contrário disto e é também sobre isto que trato aqui.

"Todos somos filhos de Deus... só não falamos as mesmas línguas...", diz a música de André Abujamra interpretada por Paulinho Moska, Lenine, Zeca Baleiro e Chico Cesar (e também gravada por Ney Matogrosso). Ela expressa um problema real, que enfrentamos a cada dia, em qualquer lugar, em qualquer país, em qualquer cultura (e entre culturas diversas): não tentamos entender o outro.

Pense nas discussões que teve ou presenciou na última semana. Pense na última briga que teve com seu namorado (a) ou marido (mulher). Pense nas brigas entre estranhos no meio da rua. Pense nas guerras entre países - que na verdade são brigas entre dois chefes políticos.

Aprendemos desde cedo a falar a língua dos nossos pais, do lugar onde crescemos, depois aprendemos a falar inglês, francês e mais tantas outras línguas, na busca por ampliarmos nossa capacidade de comunicação com outras pessoas. Mas nos esquecemos - ou, muitas vezes, nem nos damos conta - de que para podermos nos comunicar é preciso também aprender a ouvir. Não adianta ser poliglota se quando chega sua vez de ouvir você fica apenas esperando sua vez de falar.

"Quando as pessoas acham que você está morrendo, elas realmente ouvem o que você está dizendo, ao invés de apenas esperarem pela vez delas de falar". 
(do filme Clube da Luta) 

Aprendemos, desde cedo que precisamos pedir para receber. Quando bebês, percebemos que chorando recebemos alimento - e muitas vezes gritando no mercado conseguimos ganhar aquele biscoito cheio de açúcar e corantes, que nossos pais não querem comprar, mas o fazem pois gostam muito de nós e querem nos fazer felizes. Na escola, aquele que grita mais alto e com mais convicção convence o "juíz" a marcar falta  na quadra de futebol. Vivemos não a lei do mais forte, mas a "Lei do que Grita Mais". Você coloca seus pensamentos para fora e, se fizer isso bem feito, converte a realidade ao redor em seu favor.

Acontece que "o mundo está muito doente" - ainda citando a música. Vivemos em um mundo globalizado, com ferramentas de comunicação que nos permitem falar com cada vez mais pessoas a um custo cada vez menor. Temos celulares, smartphones, Skype, MSN, ICQ, Facebook, Twitter, fóruns, blogs... E o que fazemos com isso? Discutimos com amigos dos amigos no Facebook, criticamos exaustivamente pessoas públicas (que não merecem menos respeito que nenhum de nós), xingamos no Twitter, abandonamos o respeito e, junto com ele, o filtro que nos faz pensar sobre o impacto do que dizemos antes de transformarmos pensamentos (privados) em palavras (públicas).

Um diálogo é uma via com ida e volta. Você fala, transmite sua mensagem, que é percebida e analisada por outra pessoa, que por sua vez depois fala e você ouve. Isso é uma conversa. É algo que exige que saibamos ficar quietos, prestando atenção ao que o outro está dizendo para podermos depois dar continuidade com nossa próxima frase.

Agora pense em você. Pense em como você conversa com parentes, amigos, seu par e colegas de trabalho. Você se preocupa com as palavras - e o significado, muitas vezes não dito, mas ainda sim perceptível no rosto e nos gestos - do que eles dizem? Ou será que não está apenas aguardando o outro concordar com o que você está dizendo para poder continuar?

Se você está lendo este texto, já não é mais uma criança há algum tempo - e não deveria mais se comportar como tal. Está na hora de ouvirmos mais, de entendermos mais, de aprendermos mais. Afinal, nenhum ser humano é uma ilha - alguém aqui viu o filme Náufrago, com Tom Hanks?

"Só sei que nada sei."

Sabe quando pedimos opinião a um amigo? Perceba que cada pessoa, com seu ponto de vista e com suas interpretações, percebe uma coisa diferente sobre uma mesma realidade. Desta forma, não é possível que duas ou mais pessoas tenham exatamente a mesma opinião sobre tudo. Quando muito, são pensamentos complementares que achamos válidos e, a partir daí, incorporamos a nosso ponto de vista inicial. 

Ninguém "está com a razão", principalmente em discussões acaloradas, em que deixamos a emoção  (pensamento rápido) falar mais alto que o pensamento analítico (pensamento devagar) - citando o psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia e autor do best seller "Rápido e Devagar".


Vídeo de "O Mundo", de André Abujamra (com, Lenine, Moska, Zeca Baleiro e Chico Cesar):



Dicas de leitura: