Sunday, October 31, 2004

Retorno ao desconhecido

Em meu caminho
uma luz
sozinha na escuridão

Forte e reluzente
graciosa e auto-suficiente (?)

A luz me chama
e à ela eu sigo
enquanto ela me deslumbra
despertando um mundo escondido

Trilhando por entre
caminhos desconhecidos
reconheço um lar, que
em sonhos visitado
e de onde não queria ter saído

Saturday, October 30, 2004

Brecht no ar

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis

------------------------------------------------------------

Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem

- Bertolt Brecht

Friday, October 29, 2004

Ilustre amor desconhecido

Sentando-se no chão de um pátio público, solta sua bolsa ao lado esquerdo enquanto se encosta em uma pilastra. Arqueólogo do pensamento e da história humana – ou apenas um curioso – apanha um livro, que abre com prazer. Provavelmente o movimento constante dos pedestres lhe tomará um pouco a atenção, mas ele gosta disso. Penetrando no mundo da leitura, agora totalmente entretido, encontra a satisfação que por tanto buscava. Não posso dizer ao certo o que estava lendo mas, pela expressão em sua face, poderia afirmar que viajara por terras distantes, bem diferentes do lugar onde se dispusera a ler.
Como de costume em todas as suas leituras ao ar livre, por um momento sua atenção se desloca do mundo paralelo (?) contido nas velhas páginas de seu livro e se volta ao movimento das almas passantes. Põe-se, então, a imaginar o que aquelas pessoas estariam pensando. Mas, subitamente, todos aqueles indivíduos perdem a importância – na verdade, não tinham muita importância mesmo – quando surge uma mulher merecedora de seus olhares. Charmosa e elegante, e com um braço envolto em gesso, ela carrega sua bolsa no ombro direito. Agachando-se ao aparar as costas em uma pilastra frente à dele – nosso protagonista – parece brilhar, irradiando sua beleza incomum, enquanto pega dentro de sua bolsa um livro.
Ele agora tenta continuar sua leitura, mas é inútil. Desiste. Neste momento seus pensamentos se voltam todos para aquela figura que não deve ter percebido sua presença. Ele passa a utilizar de seu livro como um escudo, para poder se deleitar admirando cada traço daquela que mais parecia uma fada, tamanha a perfeição do seu mistério.
Ela vira os olhos, fitando-o, e depois redireciona o seu olhar para outro alvo aleatório – parece também gostar do movimento dos estranhos. Teria ela olhado propositadamente? Ou seria apenas por olhar mesmo, assim como ele fazia com todos os outros? Bastante irrequieto e tenso, se sente tomado pelo impulso de lhe dirigir alguma palavra. Talvez perguntar o que estaria lendo ou, mais corajosamente, oferecer-lhe um café. “Afinal, o que estaria lendo essa criatura que surge em meu horizonte e me toma toda a atenção?” – continua a se indagar.
De certo, nunca saberá. Pois quando, após ponderar por longos minutos se deveria ou não lhe falar, aquela misteriosa donzela recebe uma visita, que a pega pela mão e lhe tira de lá.

Tuesday, October 26, 2004

E com a palavra.. nosso amigo Fernando


Ao longe, ao luar

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela?

Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.


Depois da feira

Vão vagos pela estrada,
Cantando sem razão
A última esperança dada
A última ilusão.
Não significam nada.
Mimos e bobos são.

Vão juntos e diversos
Sob um luar de ver,
Em que sonhos imersos
Nem saberão dizer,
E cantam aqueles versos
Que lembram sem querer.

Pagens de um morto mito,
Tão líricos!, tão sós!,
Não têm na voz um grito,
Mal têm a própria voz;
E ignora-os o infinito
Que nos ignora a nós.


Qualquer música...

Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!

Qualquer música - guitarra,
Viola, harmônio, realejo...
Um canto que se desgarra...
Um sonho em que nada vejo...

Qualquer coisa que não vida!
Jota, fado, a confusão
Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração!

- Fernando Pessoa

Monday, October 25, 2004

Sócrates bateria palmas

"Posso não concordar com o que diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizer."

- Voltaire

Sunday, October 24, 2004

Três potências

Existem coisas que são realmente incomparáveis. Como por exemplo a música de Antonio Vivaldi – destaque para os Concertos Grossos. Ou de Beethoven – preferência particular pelas sonatas para piano -, ou até mesmo uma obra de Jackson Pollock – incrível potência, capaz de pintar sem se preocupar com padrões, criando um novo conceito, uma nova técnica. Esses mestres tiveram a capacidade de deixar um rastro que nem mesmo o tempo parece ser capaz de apagar. Suas obras se perpetuam pelo eterno espaço do nosso universo.
Fico imaginando suas vidas. Como gostaria de estar lá, no mundo deles. Vendo-os fazer tudo aquilo que eles nos deixaram. Muito melhor do que assistir quatorze babacas, vinte e quatro horas por dia , se aturando em busca de um holofote e uma bolada na conta bancária. Não sei não, mas eu acho que ao fim de uns poucos dias já estaria famoso por xingar todos lá dentro.
Bom, já estou faz mais de dez minutos tentando continuar este texto, mas parece que não sai nada. E quem seria eu para continuá-lo? Pretensioso começar falando de três potências como essas e achar que depois eu ainda teria algo para adicionar. Quisera eu poder mostrar a vocês minhas obras prediletas, musicais ou não. Só que isso não é possível, me restando apenas a possibilidade de citar nomes, que muitas vezes vocês não conhecerão – da mesma forma que eu conheço uma pequena parte do que já foi feito. Sendo assim, prefiro não citar nenhum. Isso mesmo. Eu deveria mais é ficar calado – na verdade não mexo nada além das mãos, mas...A esse momento alguns devem estar com raiva de mim. “Pô, esse cara começa e não termina o assunto!”. É isso mesmo. Ridículo, não?

Frescor

O frescor
Da brisa incessante
Faz balançar
As folhas das árvores

O sol, extremamente forte
Aquece e ativa
Causando impacto

Carros passam
E eu os observando

Na verdade
Não me são relevantes - não me importo
Apenas olho
Por olhar mesmo

Como olho os transeuntes
Cada um com a sua vida
Com o seu rumo

E me deparo com a vista mais bela de todas
O infinito do mar

Friday, October 22, 2004

Ruas movediças

Invisível
Caminho por entre
Ruas mortas-vivas
Sonâmbulas

Frenéticos, soldados de chumbo
Seguem seu trajeto
Constante
Pré-estabelecido

Seus olhos vazios e
Sua respiração regrada
Permanecem inalterados quando
Em seu caminho me ponho

Um mero obstáculo
Tão importante e intenso
Quanto suas vidas
Inúteis

Terão eles sentimentos
Desejos, ambições?
Ou apenas existem
Por falta de opção?

Rios vermelhos encobertos por
Tapetes de ouro verdes
Sua realidade
Seu maior temor

Esse ar envenenado
Disfarçado de beleza
Consome o tempo
Em todo o horizonte

Dispondo de raízes nervosas
E paredes que sussurram
O vácuo se alimenta da semente
Que luta para se libertar

Wednesday, October 20, 2004

Sobre a arte expontânea

"A arte primitiva é mistério que vive na alma e brota com a emoção."

- Pablo Picasso

Pinturas

Pinturas
O que elas dizem?
O que elas querem de mim?

Será que tentam se comunicar
Transmitir uma tensão infinita
Imortalizada pelas cores?

Ou apenas se divertir
Com seus joguinhos baratos
Enquanto eu tento encontrar uma resposta?

Pareço estar falando besteira
Mas na verdade
Não estou, não senhora

Pinturas
O que elas dizem?
O que elas querem me falar?

Talvez queiram me contar suas frustrações
Seus medos, para que assim
Eu possa me sentir normal

Normal como todo mundo
Como o meu vizinho perfeito
Como o astro de TV

Talvez queiram me dizer que tudo pelo que eu passo
Elas já passaram também
E o mundo não parou por isso

Pinturas
O que elas dizem?
Para onde querem me levar?

Para tempos remotos
Presentes no passado
Ou na mente de um sonhador?

Para contos de tristeza e guerra
Ou para histórias
De amor?

De certo eu não sei
E nem muito menos posso afirmar
Sendo eu, apenas um tolo a indagar

Pinturas
O que elas dizem?
O que elas querem de mim?

Monday, October 18, 2004

Enquanto isso, na Austrália...

Daniel Johns não se cansa de se superar. O vocalista, guitarrista e compositor do silverchair recebeu poucos dias atrás 6 ARIA´s - prêmio mais importante da música australiana - incluindo o de Artista do Ano e o de Melhor Grupo, pelo seu mais recente trabalho, a banda The Dissociatives. Seu novo projeto - em parceria com o conceituado DJ australiano Paul Mac - segue uma linha completamente diferente da música feita pelo silverchair, puxando o som para um lado mais Pop/alternativo.
Matéria de capa da revista Rolling Stone de abril, o The Dissociatives tem feito um trabalho de bom nível, mostrando que a música pop pode ser, e deve, ser feita com qualidade. mas qualidade é um característica que anda sempre com Daniel, que antes desse projeto ganhou o ARIA de Melhor Grupo - com o silverchair - por 5 anos consecutivos, sendo que o seu último álbum - o expetacular Diorama - também recebeu o prêmio de Melhor Álbum do Ano.
No site estão disponíveis clipes e matérias oficiais sobre as notícias mais recentes da banda.

www.thedissociatives.com

Sunday, October 17, 2004

Criar para transcender

Criar. Entender e depois criar. Criar para transformar. Eis aqui o que me parece ser o que há de mais importante. Não estou aqui discutindo o valor das relações humanas ou qualquer outra coisa – na verdade até estou, mas sem menosprezo. Mas me parece que, após tudo o que pode acontecer em uma vida, ou na vida de uma comunidade, o que fica e faz diferença – teve importância – é o conhecimento gerado ou, mais precisamente, o que foi criado por alguém.
Pense em tudo o que realmente lhe parece ter valor. Dentre essas, as coisas de maior relevância exigiram bastante dedicação; foi preciso dar o próprio sangue para que se concretizassem. Embora exista um esquema “invisível” que pede, e até mesmo força, as pessoas a seguirem um caminho já traçado pelas grandes corporações – baseado na demanda por mão de obra especializada; eu sei, é triste – alguns de nós, não contentes com um futuro completamente previsível – “nascem, crescem, reproduzem-se e morrem”, da aula de ciências no primário... – buscam a libertação. Só que essa libertação, essa fuga, que na verdade nem deveria ser chamada de fuga já que é uma busca pela verdade, o contato mais profundo com o seu EU, é como uma estrada demasiadamente esburacada. Com direito a desníveis e curvas fechadas e perigosas.
Vi uma entrevista com um grande estudioso, Waldez Ludwig, onde ele defende que se um indivíduo adora fazer pão ele deveria se tornar padeiro. Não um padeiro qualquer, mas um padeiro de alto nível, estudioso, sempre pensando em ser o melhor no que faz. Em um primeiro momento a minha reação foi de descrença total na viabilidade de tal ato. Mas, após certa reflexão, passei a concordar com ele. É por aí que deveríamos estar todos seguindo! Qual de nós está certo do que vai acontecer nos próximos 30 anos? Quem pode afirmar que não terá problemas financeiros, mesmo tendo escolhido uma profissão que o mercado diz que vai estar em alta por bastante tempo?
A coisa é muito mais séria do que parece para muitos. Vejo pessoas obstinadas pelo sucesso profissional enquanto se esquecem totalmente do que querem da vida. Me desculpem, mas eu não posso acreditar que a felicidade se baseie em juntar dinheiro, comprar bens, carro do ano, TV de última geração, casa imensa e viagens caríssimas – amo viajar, não me entendam mal. Qual é a graça de passar por aqui apenas para comprar, comprar e comprar? Ah, é mais seguro.. sei... Meus caros! Nada é seguro! Acordem!

O que seria mais valioso que um momento de total abstração da realidade – mas diretamente influenciada por ela – onde se transcendem a arte e a razão de existir?
(Se você não gosta de arte, pense no que você gostaria de fazer então; pode ser algo bem diferente e ao mesmo tempo grandioso...)

O que você quer da vida? Ela já está indo embora.. aos poucos...

Beethoven encontra Mozart

Casa onde Beethoven nasceu, em Bonn




In 1787, Beethoven (1770-1827) went to Vienna.
It was here that Beethoven met the great Mozart (1756-1791), who was dapper and sophisticated. He received the boy doubtfully, but once Beethoven started playing the piano his talent was evident. "Watch this lad," Mozart reported. "Some day he will force the world to talk about him."
The death of Beethoven's mother in the summer of 1787 brought him back to Bonn.

Friday, October 15, 2004

Tarado

Tarado
Por natureza

Pela arte
Pela vida
Pelo sexo

Fascinado pela
Possibilidade

Rumos
À escolher
Caminhos à seguir

Tarado pela
Beleza

Inebriado
Pelo mundo
Que me cerca

Tarado, fascinado
Minha fraqueza

- meu (como todos os outros sem indicação de autor neste blog)

Thursday, October 14, 2004

Ok

Bom, aqui se encerra mais uma etapa em minha vida. Estou pronto para uma nova viagem pelas experiências que podem, no fim das contas, adicionar pontos positivos à minha passagem por este mundo. Nada de tristeza, nada de lamentação. Na verdade eu sei que vez por outra elas sempre nos fazem uma visita, mas agora eu quero é celebrar. Celebrar este blog, celebrar que estou vivo, celebrar tudo que eu tenho de bom em minha vida e fiquei um certo tempo sem perceber - havia me esquecido.
Foda-se o Bush, foda-se o Garotinho, foda-se o amor não correspondido. Foda-se tudo aquilo que não me levanta. Quero alcançar os céus - sim, agora consigo enxergar mais de um! Sentir o frescor das novidades, da realização pessoal. Na verdade esta é frequentemente confundida por nós, seres fracos e mortais por definição, com a realização amorosa - quando na verdade são dois vetores completamente distintos.
Pode até ser que eu esteja tentando me enganar, mas da mesma forma eu acredito que o amor é algo que pode se tranformar. O amor "Romeu & Julieta" pode muito bem se tornar um dia um amor amigo, abrindo aí a possibilidade de um relacionamento muito mais perfeito que o anterior, se baseando agora em sinceridade, em amizade. E nada é mais sincero que uma amizade onde ambas as partes carregam um passado de boas lembranças e confiança, uma pela outra.

Lá no fundo

Oscilando entre momentos de felicidade e de tristeza, parece difícil saber ao certo qual dos sentimentos é mais presente. Por dentro uma força sinistra suga tudo que eu tenho de bom, não deixando espaço para esperanças. Por fora a necessidade de mostrar a mim mesmo, através da percepção dos outros, que estou bem. Ser ou não ser já não é mais a questão - aliás, isso já foi discutido por muito tempo com a minha consciência e não quero ter que ficar me justificando pelas minhas escolhas até o fim dos meus dias! O problema é quando você, se conhecendo bastante, enxerga que está em uma vala escura e não faz a menor idéia de como sair de lá. E sente frio, muito frio. A intensidade dessa dor às vezes é tanta que parece que tudo acabou, que nada mais existe; fazendo-me acreditar que era tudo apenas mais uma noite mal dormida.. até olhar o meu reflexo no espelho e não gostar do que vejo. Uma figura decaída em um estado de avançada putrefação emocional. Não sei se deveria ter medo ou procurar entender...

Wednesday, October 13, 2004

Palhaço do Buca

"Melancolia - o palhaço triste"

.


Meu irmão mais novo - Bruno Costa - fez este desenho. Muito foda...

Poema para Julia

Um beijo, pra você ficar mais calma
Uma careta, pra você sorrir
Uma pizza, pra você se deliciar
Uma música, pra te confortar
Um aniversário, pra se recordar das coisas boas que aconteceram em sua vida
Uma flor, pra você lembrar que é bonita
Um filme, pra você pensar
Uma foto, pra você guardar
Uma idéia, pra você agitar
Um café, pra não deixar a vida passar

E quanto ao guarda-chuva, deste você não precisa
Uma gripe às vezes faz bem

Queda

Olha para o alto
Contempla o seu objetivo
Faz de tudo para chegar lá
Tem receio, mas isso não o impede
Sabe que o prêmio vale a tentativa
Aliás, enxerga grande possibilidade de vitória
Aquece as mãos com o atrito de uma na outra
Respira fundo
Reflete
Lembra de tudo que lhe aconteceu e toma sua decisão
Fecha os olhos
Respira fundo
Não consegue e pensa em desistir
Mas uma voz - sua consciência - lhe diz para ser forte
Respira fundo
Fecha os olhos
Respira novamente - sabe que o momento vai decidir o seu futuro
Corre
Como nunca correu na vida
E salta, na tentativa de alçar vôo





E cai

Um pensamento

"Death is a continuation of my life without me..."

- Sartre ( from "The Condemned of Altona")

Divagando...

Retornando de uma viagem pelos teatros da Europa medieval, sento-me em frente ao móvel mais disputado atualmente pela nossa sociedade - a mesa do computador. Me deleito ao som de alguns prelúdios de Bach, enquanto minha imaginação errante se prontifica a vagar por teatros ingleses. Vejo cidades inteiras se mobilizando em favor de um grande evento: a encenação de diversas peças, cada uma em um canto da cidade - qualquer uma, isso não importa agora. Estamos no meio de um feriado - Corpus Cristi. Todos estão "de folga"; na verdade, com a exceção de bares e hotéis. Muito antes de Elizabeth, muito antes de Shakespeare. Aqui o teatro acaba de sair das mãos da Igreja - que o abandonou, aceitando apenas peças de motivação religiosa.
Antes - sob o domínio da Igreja - tínhamos padeiros que, acostumados com os fornos, representam o Juízo Final.. barqueiros que representam o dilúvio...
Agora as guildas são as responsáveis. Nada mais de falar apenas sobre a Bíblia. Passamos a ter diversas peças diferentes; cada uma representada por uma guilda. É um movimento que atinge todos - algumas vezes os ciclos duram um mês inteiro para se completarem; e ninguém volta ao trabalho enquanto não assistir a todas!
Ficamos estarrecidos ao ver tragédias acontecendo bem perto de nós, quando bem defendidas pelos grandes atores que tomam para si a magia do teatro e fazem dele sua vida. Suas interpretações emocionam e dão um sentido maior aos dias que não mais - ao menos por um breve instante - passam em branco. Aquelas pessoas, que não tem nada de muito diferente do trabalho de cada dia, da rotina, da desilusão frente a necessidade de uma obediência cega, encontram a possibilidade de um mundo novo. Um mundo inspirado na vida arbitrariamente imposta a todos eles, mas adicionado de um pouco de imaginação e beleza - maquiagem (?).

Tuesday, October 12, 2004

Como se ele fosse ler

Caro Jabor, te admiro muito. Acabei de ler o seu texto no jornal e senti um pouco de arrependimento - o mesmo que sempre sinto ao fazer mal a outro ser que não me tenha feito nada; ao menos para merecer. Minha impulsividade destrutiva volta e meia toma conta das minhas atitudes e me assusta. Me assuta porque sou eu - e só eu sei as coisas das quais seria capaz; ninguém neste mundo teve a experiência de sabê-lo, até hoje.
De onde será que viria tanta raiva, tanta indignação? Na verdade a resposta é bem simples: deste mundo. Nada faz sentido. Vejo crianças felizes, correndo, brincando.. elas nem sonham - pesadelos - com o mundo real. Com o mundo que as cerca. E quando acordam no meio da noite, chorando por causa do Bicho-Papão, seus pais dizem que na verdade ele não existe. Coitadas! Já estão sendo enganadas - seria isso bom? O protagonista de seus temores é na verdade a visualização do que foi absorvido, inconscientemente, do nosso mundo. Nosso único lugar, de onde não temos como sair. Tentamos, mas nunca conseguimos. Nos isolamos em nossas casas - nosso refúgio - conectados à todos - e na verdade a ninguém - esperando respostas que não podem ser dadas. Optamos por nos organizar em grupos onde todos compartilham dos mesmo interesses - o maior deles a carência, a necessidade de um contato humano com quem não nos cause medo. Tudo isso para que?
Sabemos - no fundo você também sabe - que vamos todos morrer. E morreremos sozinhos. Em nosso último suspiro relembraremos de muitos momentos especiais. Tudo o que fizemos e deixamos de fazer. Nos arrependeremos de não termos sido corajosos o suficiente para encarar várias das situações em que a única coisa que faltava era a compreensão de que a única coisa que importa nessa vida é a realização. Dos nossos desejos, dos nossos sonhos.. a realização do agora. O agora é muito importante - pense nisso! Quanto de tudo que há no mundo - lá vem ele novamente... - está sendo jogado fora enquanto ficamos parados, esperando que se aconteça um milagre - não existem, isso é algo que está dentro de nós!
Precisamos reclamar, discutir, conversar, brigar, nos entender, nos amar, nos relacionar, fazer amor, escrever, cantar, gritar, correr, subir bem alto e.. pular. Isso mesmo, pular. Sem medo. Ao menos é o que devíamos fazer...

Poesia

Subitamente me encontro invadindo um
Mundo novo
Totalmente desconhecido
Por mim - leigo

Adentrando neste labirinto de formas
Únicas e variadas
Me perco e
Já não posso, ou não quero, mais voltar

Encantado com sua
Grandiosidade
Embriagado
Hipnotizado

A expectativa,
Revitalizante
O caminho, duro
O tempo, curto

Sei que ela não me espera
Mas me causa euforia
Por sentir
Que se apossou de mim


A fonte de sangue

Tenho a impressão de que meu sangue em onda escorre,
Rítmico soluçar de nascente que morre.
Ouço-o bem que escorre em murmúrio de vaga,
Mas eu tateio em vão à procura da chaga.

Através da cidade, e pelas estacadas,
Faz as ilhas nascer por todas as calçadas,
Desalterando a sede a cada criatura
O seu fluxo que sempre o universo purpura.

Muitas vezes pedi a vinhos de prazer
Adormecerem só um dia o horror que mina;
O vinho aguça o olhar e torna a audição fina!

Eu procurei, no amor, um sono de esquecer;
E é-me somente o amor um colchão de punhais
Em que eu dou de beber às amadas fatais!

- Charles Baudelaire (texto extraído do livro As Flores do Mal)


Monday, October 11, 2004

A Chuva e eu

Chove
Que bom

Na verdade ainda
Não chove
Mas falta pouco

Falta para me banhar
Na tranqüilidade que
Minha alma tanto
Deseja

Nada melhor que
Um livro

O Príncipe
Ou filme
A Professora de Piano

A noção da infinidade
De opções, do agora
Me permite digressões
Uma visão um tanto quanto pictórica

Um descanso
Um momento só para mim

Sunday, October 10, 2004

Debate sobre drogas na UFRJ

"Trinta quilos. Caídos do 14º andar bem em cima da cabeça do infeliz."

- Deputado Federal Fernando Gabeira, respondendo a uma aluno qual seria a quantidade de maconha necessária para matar um usuário.


Não deixe de escutar

The Mars Volta ( CD "de-loused in the comatorium")

Projeto atual do guitarrista e do vocalista do "At the Drive-in". Os baixos do CD foram gravados por Flea, Chili Peppers, e em uma das músicas temos a participação de Frusciante, também do Peppers.

Saturday, October 09, 2004

Faz sentido?

Pra que essa fúria
Que te desconcerta por inteira
Que te enche a cabeça

Que transforma alegria em raiva
Que torna seu dia estressante
E faz dos outros teus inimigos

Que te afasta do teu caminho
Te levando a lugares dos quais
Nunca gostará de lembrar

Se na verdade
Em seus mais sinceros e profundos desejos
Anseia por um pouco de paz?

Oscar Wilde

"We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars!!!"

PJ Harvey? Só no Emule...

E mais uma vez o Rio ficou de fora. O Tim Festival, que este ano traz nomes de absurda importância na música, deixa muitos fãs desesperados por não poderem fazer parte disso tudo.
Em parte pelo fato de que nem todos podem ir para São Paulo - cada um com a sua desculpa; eu tenho a minha, $. Outro problema seria encontrar ingressos. Alguém acredita que o show do Brian Wilson teve seus ingressos esgotados na primeira manhã de vendas?! E o Mars Volta, que nem foi anunciado? Como é que os fãs da banda podem correr para comprar ingressos de um show que eles nem sabem que vai ocorrer? Sorte daqueles que vão ao show do Libertines - que divide o palco com o Mars. Agora, meus amigos, o negócio é rezar para que pelo menos o Radiohead - que manifestou preferir tocar no Rio; detalhe, eles se recusam a tocar em São Paulo, não é apenas preferência - tenha a dignidade de nos fazer uma visita no ano que vem...

Calma, não estou dizendo que o show do Primal Scream, no Rio, deve ser menosprezado - muito pelo contrário. Corram para comprar os seus ingressos!

Uma música

"Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia?
Corria prum shopping center
Ou para uma academia?
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia?
Andava pelado na chuva?
Corria no meio da rua?
Entrava de roupa no mar?
Trepava sem camisinha?
Abria a porta do hospício?
Trancava a da delegacia?
Dinamitava o meu carro?
Parava o tráfego e ria? "
O último dia (Paulinho Moska / Billy Brandão)

Friday, October 08, 2004

Pois é

É, não tive escolha. Fui tentar postar para o blog de uma amiga minha e eis o que me acontece: "You need a blog to post a message". O que?! Pois é, o jeito era fazer um também.
------------------------------
Até quando o assunto Bush vai nos perturbar? Ninguém aguenta mais o fato de que alguns idiotas ("Uma nação de Idiotas") insistem que esse cara vale alguma coisa. Triste ver que algumas crianças correm pelas ruas - na nação idiota - com cartazes defendendo esse macaco.
------------------------------
E o Arnaldo Jabor? O que será que ele vai fazer se o Bush sair de cena? Sim, porque ele só fala disso! Provavelmente vai continuar reclamando do cinema.. que no tempo dele era tudo melhor, etc.