Wednesday, October 13, 2004

Divagando...

Retornando de uma viagem pelos teatros da Europa medieval, sento-me em frente ao móvel mais disputado atualmente pela nossa sociedade - a mesa do computador. Me deleito ao som de alguns prelúdios de Bach, enquanto minha imaginação errante se prontifica a vagar por teatros ingleses. Vejo cidades inteiras se mobilizando em favor de um grande evento: a encenação de diversas peças, cada uma em um canto da cidade - qualquer uma, isso não importa agora. Estamos no meio de um feriado - Corpus Cristi. Todos estão "de folga"; na verdade, com a exceção de bares e hotéis. Muito antes de Elizabeth, muito antes de Shakespeare. Aqui o teatro acaba de sair das mãos da Igreja - que o abandonou, aceitando apenas peças de motivação religiosa.
Antes - sob o domínio da Igreja - tínhamos padeiros que, acostumados com os fornos, representam o Juízo Final.. barqueiros que representam o dilúvio...
Agora as guildas são as responsáveis. Nada mais de falar apenas sobre a Bíblia. Passamos a ter diversas peças diferentes; cada uma representada por uma guilda. É um movimento que atinge todos - algumas vezes os ciclos duram um mês inteiro para se completarem; e ninguém volta ao trabalho enquanto não assistir a todas!
Ficamos estarrecidos ao ver tragédias acontecendo bem perto de nós, quando bem defendidas pelos grandes atores que tomam para si a magia do teatro e fazem dele sua vida. Suas interpretações emocionam e dão um sentido maior aos dias que não mais - ao menos por um breve instante - passam em branco. Aquelas pessoas, que não tem nada de muito diferente do trabalho de cada dia, da rotina, da desilusão frente a necessidade de uma obediência cega, encontram a possibilidade de um mundo novo. Um mundo inspirado na vida arbitrariamente imposta a todos eles, mas adicionado de um pouco de imaginação e beleza - maquiagem (?).

1 comment:

Anonymous said...

Guilherme, você já leu algum livro da Anne Rice, como o "Entrevista com o Vampiro" ou "O Vampiro Lestat"? Não sei porque, mas ler seus textos me faz lembrar de Lestat. Talvez seja essa visão sobre a vida, esse deixe rolar e seja feliz. Talvez seja este texto sobre teatro. O Lestat adora teatro. Se você nunca leu, leia. Eu posso te emprestar.
Renata Ventura