Tuesday, October 26, 2004

E com a palavra.. nosso amigo Fernando


Ao longe, ao luar

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela?

Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.


Depois da feira

Vão vagos pela estrada,
Cantando sem razão
A última esperança dada
A última ilusão.
Não significam nada.
Mimos e bobos são.

Vão juntos e diversos
Sob um luar de ver,
Em que sonhos imersos
Nem saberão dizer,
E cantam aqueles versos
Que lembram sem querer.

Pagens de um morto mito,
Tão líricos!, tão sós!,
Não têm na voz um grito,
Mal têm a própria voz;
E ignora-os o infinito
Que nos ignora a nós.


Qualquer música...

Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!

Qualquer música - guitarra,
Viola, harmônio, realejo...
Um canto que se desgarra...
Um sonho em que nada vejo...

Qualquer coisa que não vida!
Jota, fado, a confusão
Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração!

- Fernando Pessoa

1 comment:

Anonymous said...

Pessoa... não conheço muito dele, só mesmo de nome... Mas como todo poeta, tem alguma coisa a dizer sobre a vida. Gostei desse post, principalmente do 1º poema, traduz uma melancolia, algo que não dá pra explicar...
Enfim, chega de comment, vou passar pra publicidade:
http://fft-rj.blogspot.com/ fiz um blog tambem! Só tem um post, e voce é a primeira pessoa a saber disso, mas ele vai crescer :P
Filipe