Sunday, October 17, 2004

Criar para transcender

Criar. Entender e depois criar. Criar para transformar. Eis aqui o que me parece ser o que há de mais importante. Não estou aqui discutindo o valor das relações humanas ou qualquer outra coisa – na verdade até estou, mas sem menosprezo. Mas me parece que, após tudo o que pode acontecer em uma vida, ou na vida de uma comunidade, o que fica e faz diferença – teve importância – é o conhecimento gerado ou, mais precisamente, o que foi criado por alguém.
Pense em tudo o que realmente lhe parece ter valor. Dentre essas, as coisas de maior relevância exigiram bastante dedicação; foi preciso dar o próprio sangue para que se concretizassem. Embora exista um esquema “invisível” que pede, e até mesmo força, as pessoas a seguirem um caminho já traçado pelas grandes corporações – baseado na demanda por mão de obra especializada; eu sei, é triste – alguns de nós, não contentes com um futuro completamente previsível – “nascem, crescem, reproduzem-se e morrem”, da aula de ciências no primário... – buscam a libertação. Só que essa libertação, essa fuga, que na verdade nem deveria ser chamada de fuga já que é uma busca pela verdade, o contato mais profundo com o seu EU, é como uma estrada demasiadamente esburacada. Com direito a desníveis e curvas fechadas e perigosas.
Vi uma entrevista com um grande estudioso, Waldez Ludwig, onde ele defende que se um indivíduo adora fazer pão ele deveria se tornar padeiro. Não um padeiro qualquer, mas um padeiro de alto nível, estudioso, sempre pensando em ser o melhor no que faz. Em um primeiro momento a minha reação foi de descrença total na viabilidade de tal ato. Mas, após certa reflexão, passei a concordar com ele. É por aí que deveríamos estar todos seguindo! Qual de nós está certo do que vai acontecer nos próximos 30 anos? Quem pode afirmar que não terá problemas financeiros, mesmo tendo escolhido uma profissão que o mercado diz que vai estar em alta por bastante tempo?
A coisa é muito mais séria do que parece para muitos. Vejo pessoas obstinadas pelo sucesso profissional enquanto se esquecem totalmente do que querem da vida. Me desculpem, mas eu não posso acreditar que a felicidade se baseie em juntar dinheiro, comprar bens, carro do ano, TV de última geração, casa imensa e viagens caríssimas – amo viajar, não me entendam mal. Qual é a graça de passar por aqui apenas para comprar, comprar e comprar? Ah, é mais seguro.. sei... Meus caros! Nada é seguro! Acordem!

O que seria mais valioso que um momento de total abstração da realidade – mas diretamente influenciada por ela – onde se transcendem a arte e a razão de existir?
(Se você não gosta de arte, pense no que você gostaria de fazer então; pode ser algo bem diferente e ao mesmo tempo grandioso...)

O que você quer da vida? Ela já está indo embora.. aos poucos...

4 comments:

Anonymous said...

Fugir desse "esquema invisível" hoje em dia é praticamente isolar se da sociedade, ou pelo menos daquilo que a sociedade considera o certo e o fundamental. Mas essa idéia até me agrada, a realização individual e intelectual vale mais do que seguir a ordem das coisas, ainda mais numa sociedade materialista e doente como a nossa.

Hoje li o seu primeiro post, to pensando em fazer aquilo também... fazer um blog, pra poder comentar melhor no dos outros...
Filipe

Anonymous said...

Meu Deus! Eu estou vivendo isso... as vezes me sinto como o Alex do "Laranja Mecânica". Sei que é uma comparação meio esquisita, mas o que retrata o filme senão a questão do livre arbítrio. Na nossa sociedade, que se diz correta, nós somos os marginais. E marginais não podem ter escolhas, muito menos profissionais.
E é isso. E agora vou dormir pq amanhã eu acordo cedo...cedo demais pra ter escolhas.

Alessandra Lemos

Mauro said...

Fala Puf (hehehe, eu nao consegui me segurar)
Gostei muito da mensagem que vc quis passar, eu também penso nisso o tempo todo. Talvez estas suas indagaçoes sejam o reflexo da falta de religiosidade que nós temos hoje em dia (calma, aí vem a explicaçao). Imagino que no passado, quando a Igreja dominava o pensamento das pessoas e todos acreditavam que um bom Deus guiava o mundo, todos tinham a certeza de estar cumprindo seu papel.
Hoje, eu fico pensando: Trabalhar, batalhar em busca de que? Um mundo melhor? O que é um mundo melhor? O engenheiro deve pensar em cumprir o seu papel de dar à humanidade (atraves da indústria) os melhores meios de cumprir seu objetivo, qualquer que seja. Esses objetivos acabam sendo definidos pelas empresas, que visam o lucro. Lucro pra que? Parece que maximizar o lucro dá tanto trabalho que a gente acaba esquecendo pra que ele serve.
Me parece que as pessoas realmente eficientes sao aquelas que estao bem motivadas, ou seja tem plena convicçao do seu objetivo e da importancia deste objetivo. Infelizmente às vezes eu penso que a única maneira de atingir esta convicçao é ignorar tudo aquilo que se segue ao cuprimento das suas metas. Sei lá se vc estende o que eu quero dizer, acho que está bem claro. Espero que vc leia os comments dos posts antigos (isso ainda é português?), senao eu escrevi à toa.

Anonymous said...

Que bonito esse texto...qd tiver textos assim, me manda...bjos, Paty