Sunday, May 29, 2005

Faça chuva ou faça sol

Cada dia ando
Passos e mais passos
Uns para frente, outros parecem que não
- mas os empecilhos me movem para frente
mesmo que acredite estar dando a ré –

Outro dia, uma batalha
Um começo, um outro recomeço
Minhas mãos lavam o rosto que dará a cara aos tapas
Crenças se abalam,
a motivação se desgasta
e outro dia se renova, como se o dia
estivesse nascendo pela primeira vez

Incerto, frio, quente, seguro
Tudo isso ao mesmo tempo
Temporal, mar aberto e com nuvens negras
Sonhos ruivos e verdes,
uma caneca na mão e um cobertor

Nada simples, muito simples
Fácil, mas trabalhoso
Previsões seguras e incertas
para o amanhã,
que aguardo ansioso

Tuesday, May 24, 2005

Por que? Porque eu gosto. Só por isso.

"My scientific work is motivated by an irresistible longing to understand the secrets of nature and by no other feelings..."

- Albert Einstein

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O sentido que falta


Falta sinceridade
Falta seguir os instintos
Falta o uso das capacidades,
o que foi aprendido

Falta discussão
Falta reflexão,
o pensamento na realidade

Falta foco, falta estudo
Falta isso tudo
Mas falta algo mais
Nada demais

Falta atitude,
falta compreensão
Parar de pensar, parar de escrever
e começar a fazer

Depois faltarão outras coisas...

Saturday, May 14, 2005

De pé, com uma cadeira de prata

Noite. Tumulto, muitas pessoas se esbarrando para ver o que está na frente. Alvo da obsessão: o palco. Nele, tudo o que se desejava e um pouco mais. Um show fora do comum, daqueles que passam a definir pelo resto da sua vida o seu nível de exigência quando lhe perguntam qual o seu conceito de uma noite perfeita.
Entra um piano, para mostrar que por aí vem algo. Sua melodia chega aos ouvidos trazendo um misto de prazer com suspense, porque a qualquer hora está para surgir o monstro, filho de um ser não-humano com uma mortal. O mestre entra em palco. Sua guitarra faz sons estridentes, que parecem ressoar ao infinito, enquanto ele se contorce de prazer e satisfação. Notas soltas, presas, dentro e fora da tonalidade, seguindo apenas as regras impostas por novas regras; estas, sem limites. O importante aqui é a arte, e a beleza também.
O ambiente está azul, não como o azul blue, mas um azul sem tristeza, mesmo que as letras das canções remetam a sentimentos nada felizes ou agradáveis. O azul da iluminação aqui nos carrega para um outro lugar, um lugar onde se entra em êxtase, um lugar de realização plena, onde as imperfeições do mundo deixam de existir. A atmosfera macia e confortável conseguindo anular o incômodo que normalmente seria se amontoar junto a milhares de pessoas num pequeno espaço.
Sonho. Essa é a cara desta noite, que não sairia da lembrança jamais. Mesmo em mil anos.

Friday, May 13, 2005

Das chamas para a calmaria

Três pontinhos. Isso mesmo, reticências. Leia-se: completa noção da falta de vontade de raciocinar, pensar ou remoer pelo instante que seja, qualquer tipo de pensamento. Dor de cabeça, quero me desprender deste lugar. Este buraco, quartinho sujo e maltratado, essas minhas roupas rasgadas.. tudo me causa irritação! Nada de ficar pensando muito em Kant, que se dane. Vamos escutar um pouco Schopenhauer. Nem os gregos que avisavam em uma placa que “aqui só estuda filosofia aquele que tem o domínio da matemática”. Preciso respirar, e isso eu não vou fazer junta a expressões numéricas ou analogias com as teorias da física ou qualquer que seja; nem mesmo a da relatividade! Quero chutar, socar, rasgar. Dar um grito de libertação, expulsando o mal estar deste corpo, que se torna doente mesmo com a alimentação em dia.
Se tem uma coisa que eu não suporto, é ter uma opinião por causa de um filósofo. Aquele indivíduo que diz “isso não sou eu, é o filósofo X”. Um pouquinho de personalidade, por favor. Existe uma preocupação imensa em saber o que os outros disseram, para que assim o nosso pensamento, a nossa idéia, seja aceita. Nada disso, discordo em gênero, número – olha ele aí – e grau. Vale muito mais a opinião daquele que olha, observa, analisa. Refletir não é apenas concordar com um filósofo ou pensador e sair por aí pregando o que ele disse como sendo o certo e ponto final. Ponto final quem diz aqui sou eu! Balela! Até hoje não encontrei nenhum ser, seja pessoalmente, seja lendo a respeito, que eu considerasse perfeito. Isso não existe. Também não existe essa de que o que foi considerado certo num passado ande por aí com uma etiqueta dourada, significando “imaculado, você não pode quebrar ou achar falhas neste conceito”. Mitos, idolatria, preguiça humana, enganação.
Da mesma forma como acho idiota julgar as idéias de um homem apenas porque ele não seria uma pessoa agradável. Já ouvi gente dizendo que Nietzsche era um revoltado sem argumentos. Disseram ter lido sua biografia – Heche Homo – e percebido que ele foi um homem sem valor. Certo. Agora, gostaria de entender como diversos doutores em filosofia – inclusive um, padre, que escreveu o prefácio para esta mesma biografia; na edição da Martin Claret – crêem ser Nietzsche um dos filósofos mais importantes. Eu mesmo acho que lê deve ter sido uma pessoa insuportável, complexa, difícil de se estabelecer um convívio – mas, quantos de nós somos realmente fáceis? Embora pense assim, tenho a nítida noção de que, o que mais me encantou em Nietzsche, foi a mesma característica que mais me deslumbrou ao ler sobre Sócrates. Enxergar coisas que as pessoas insistem em dizer que são loucura, perceber o quanto somos hipócritas com a maior facilidade e não nos damos conta, o quanto as coisas que mais parecem certas e comuns, cotidianas e aceitas por nós como sendo o normal, podem ser o exemplo da parte podre existente em nós. Sócrates foi condenado a morte por suas palavras e pela teimosia, por sua insistência em não deixar aqueles que se acham os seres santos e justos, viverem sua enganação em paz. Nietzsche causou tanto desgosto – seus livros eram publicados com bastante dificuldade, sorte dele ter um amigo influente, capaz de ouvir seus pedidos de ajuda – que a maior satisfação que um crítico de suas idéias tem é dizer que ele é ridículo e se contradiz ao afirmar que o filósofo é incoerente, por que suas idéias estão no plano metafísico, não alcançando o plano real, que seria onde tudo se passa. Falta um pouco de vontade para tentar entender as coisas.
É muito aceito dizer que o pobre não se esforça, que traficante merece morrer, que quem matou merece pena de morte e que aquele estranho não tem caráter por ter feito algo que nós – ainda – não fizemos. Falta se colocar no lugar do outro, tentar entender o que levou o outro a fazer o que fez. Falta buscar compreender do que se trata, qual é o verdadeiro ponto G. As pessoas buscam a paz. O problema é que se esquecem que a paz não ocorre apenas para um, enquanto outros sofrem. Ela é um sentimento que precisa da coletividade para se tornar concreto e resistente. Para se tornar real.
Este texto começou com um tema em mente e, com o teclar das letras e os correr dos minutos, tomou um outro caminho, completamente diferente. Como se fosse um papo com alguém, uma conversa comum, onde trocamos palavras sobre variados assuntos, podendo misturar futilidades com reflexões profundas. Mas, se você discorda, se você se sentiu ofendido, se está revoltado com o fato e não quer deixar que isso se repita, sei lá.. me jogue numa fogueira.

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Hoje é sexta-feira 13.

Sunday, May 08, 2005

Uma palhinha de Baudelaire

IV
Correspondências
A natureza é um templo onde vivos pilares
Podem deixar ouvir vozes confusas: e estas
Fazem o homem passar através de florestas
De símbolos que o vêem com íntimos olhares.

Como os ecos ao longe confundem seus rumores
Na mais profunda e tenebrosa unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.

Perfumes frescos há como carnes de infantes
Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos
E outros ricos, corrompidos e triunfantes,

Que possuem a expansão do universo sem termos
Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso
Que cantam dos sentidos o transporte imenso.

- Charles Baudelaire
(extraído de "As Flores do Mal")

Thursday, May 05, 2005

O visitante indesejado

A tristeza e seus contornos fazem seu trabalho, inspirando beleza e sinceridade. Um azul que vem e não anuncia a hora de passar. Se instala, firmando raízes, emaranhando-se na mente humana, onde faz sua história. Loucuras, paranóias, neuroses. Dor, um vazio. Nada ao redor, apenas o vácuo, inerte e inerente à vida de cada um. A afirmação, e a aceitação, ainda que relutante, de que todos estão sós, sempre.
O sol, ao longe, brilha, mas já com cara de passado. Seus raios levam tempo para serem percebidos pela visão humana. Breu. De óculos escuros, caminhando entre folhas secas, pregos enferrujados ao chão e moscas fedorentas que se esbarram e caem ao morrer.
Uma saída, talvez o fim disso tudo. Enfim, uma solução. Seria real? Sincera? Pode ser, mas é muito incerto.
A solidão que assola e bate na porta, mesmo que não a aceitemos. Insistente, ela berra e sai, deixando um bilhete por baixo, uma fresta. “Um dia ei de voltar para te buscar”.