Sunday, May 08, 2005

Uma palhinha de Baudelaire

IV
Correspondências
A natureza é um templo onde vivos pilares
Podem deixar ouvir vozes confusas: e estas
Fazem o homem passar através de florestas
De símbolos que o vêem com íntimos olhares.

Como os ecos ao longe confundem seus rumores
Na mais profunda e tenebrosa unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.

Perfumes frescos há como carnes de infantes
Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos
E outros ricos, corrompidos e triunfantes,

Que possuem a expansão do universo sem termos
Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso
Que cantam dos sentidos o transporte imenso.

- Charles Baudelaire
(extraído de "As Flores do Mal")

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