Friday, May 13, 2005

Das chamas para a calmaria

Três pontinhos. Isso mesmo, reticências. Leia-se: completa noção da falta de vontade de raciocinar, pensar ou remoer pelo instante que seja, qualquer tipo de pensamento. Dor de cabeça, quero me desprender deste lugar. Este buraco, quartinho sujo e maltratado, essas minhas roupas rasgadas.. tudo me causa irritação! Nada de ficar pensando muito em Kant, que se dane. Vamos escutar um pouco Schopenhauer. Nem os gregos que avisavam em uma placa que “aqui só estuda filosofia aquele que tem o domínio da matemática”. Preciso respirar, e isso eu não vou fazer junta a expressões numéricas ou analogias com as teorias da física ou qualquer que seja; nem mesmo a da relatividade! Quero chutar, socar, rasgar. Dar um grito de libertação, expulsando o mal estar deste corpo, que se torna doente mesmo com a alimentação em dia.
Se tem uma coisa que eu não suporto, é ter uma opinião por causa de um filósofo. Aquele indivíduo que diz “isso não sou eu, é o filósofo X”. Um pouquinho de personalidade, por favor. Existe uma preocupação imensa em saber o que os outros disseram, para que assim o nosso pensamento, a nossa idéia, seja aceita. Nada disso, discordo em gênero, número – olha ele aí – e grau. Vale muito mais a opinião daquele que olha, observa, analisa. Refletir não é apenas concordar com um filósofo ou pensador e sair por aí pregando o que ele disse como sendo o certo e ponto final. Ponto final quem diz aqui sou eu! Balela! Até hoje não encontrei nenhum ser, seja pessoalmente, seja lendo a respeito, que eu considerasse perfeito. Isso não existe. Também não existe essa de que o que foi considerado certo num passado ande por aí com uma etiqueta dourada, significando “imaculado, você não pode quebrar ou achar falhas neste conceito”. Mitos, idolatria, preguiça humana, enganação.
Da mesma forma como acho idiota julgar as idéias de um homem apenas porque ele não seria uma pessoa agradável. Já ouvi gente dizendo que Nietzsche era um revoltado sem argumentos. Disseram ter lido sua biografia – Heche Homo – e percebido que ele foi um homem sem valor. Certo. Agora, gostaria de entender como diversos doutores em filosofia – inclusive um, padre, que escreveu o prefácio para esta mesma biografia; na edição da Martin Claret – crêem ser Nietzsche um dos filósofos mais importantes. Eu mesmo acho que lê deve ter sido uma pessoa insuportável, complexa, difícil de se estabelecer um convívio – mas, quantos de nós somos realmente fáceis? Embora pense assim, tenho a nítida noção de que, o que mais me encantou em Nietzsche, foi a mesma característica que mais me deslumbrou ao ler sobre Sócrates. Enxergar coisas que as pessoas insistem em dizer que são loucura, perceber o quanto somos hipócritas com a maior facilidade e não nos damos conta, o quanto as coisas que mais parecem certas e comuns, cotidianas e aceitas por nós como sendo o normal, podem ser o exemplo da parte podre existente em nós. Sócrates foi condenado a morte por suas palavras e pela teimosia, por sua insistência em não deixar aqueles que se acham os seres santos e justos, viverem sua enganação em paz. Nietzsche causou tanto desgosto – seus livros eram publicados com bastante dificuldade, sorte dele ter um amigo influente, capaz de ouvir seus pedidos de ajuda – que a maior satisfação que um crítico de suas idéias tem é dizer que ele é ridículo e se contradiz ao afirmar que o filósofo é incoerente, por que suas idéias estão no plano metafísico, não alcançando o plano real, que seria onde tudo se passa. Falta um pouco de vontade para tentar entender as coisas.
É muito aceito dizer que o pobre não se esforça, que traficante merece morrer, que quem matou merece pena de morte e que aquele estranho não tem caráter por ter feito algo que nós – ainda – não fizemos. Falta se colocar no lugar do outro, tentar entender o que levou o outro a fazer o que fez. Falta buscar compreender do que se trata, qual é o verdadeiro ponto G. As pessoas buscam a paz. O problema é que se esquecem que a paz não ocorre apenas para um, enquanto outros sofrem. Ela é um sentimento que precisa da coletividade para se tornar concreto e resistente. Para se tornar real.
Este texto começou com um tema em mente e, com o teclar das letras e os correr dos minutos, tomou um outro caminho, completamente diferente. Como se fosse um papo com alguém, uma conversa comum, onde trocamos palavras sobre variados assuntos, podendo misturar futilidades com reflexões profundas. Mas, se você discorda, se você se sentiu ofendido, se está revoltado com o fato e não quer deixar que isso se repita, sei lá.. me jogue numa fogueira.

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Hoje é sexta-feira 13.

4 comments:

Anonymous said...

Espero que esteja preparado. A fogueira virá.

Guilherme Martins da Costa said...

Ela sempre vem, ao menos para os que não se calam...

Anonymous said...

Não ligue pro Rodrigo. Bobagem .....hahahaahah

Mauro said...

concordo, com ressalvas, senao nao tem graca ;)