Saturday, April 30, 2005

Uma noite qualquer, em um bar inglês

Se eu pudesse escolher uma pessoa, qualquer uma, viva, para trocar uma idéia, esta seria... bem.. vou criar um pequeno suspense, mas espero valer a leitura. Cheguei a essa conclusão ontem, enquanto um amigo me contava um acontecido. Sua ex-namorada, que foi na Inglaterra para morar por uns tempos estava em um bar - como se faz aqui no Rio ou em infinitos lugares pelo mundo todo. Fora com uns amigos, apenas com o objetivo de sair de casa para variar um pouco – e conhecer gente nova, algo que faz parte da natureza humana. Foi até o balcão e sentou-se. Pediu uma bebida – não sei qual – e ficou tranqüila por uns momentos. Olhou para as amigas, olhou para o lado. Apenas observando o ambiente. Olhou para o lado esquerdo. Nada de incomum, a não ser por uma figura que ela parecia ter reconhecido, mas não parecia acreditar que fosse verdade. Paralisada, ela contemplava o que havia encontrado. Um rapaz quieto, sozinho. Bebendo como todos que ali estavam; em silêncio. Ele percebe que ela o fitava ininterruptamente. Ela tremeu um pouco ao ver que o rapaz olhara agora para ela. E, com uma expressão mista de riso, desconcerto e cansaço, ele lhe arremessa uma bomba. “Yes, I´m Thom York”.
Thom York é vocalista (voz principal, back vocals e letras), guitarrista e pianista da banda inglesa Radiohead, cultuada por nove a cada dez admiradores ou músicos do Rock contemporâneo e de vanguarda, desde a década passada (anos 90). Suas letras misturam surrealismo, crítica social, política e crises emocionais.

Tuesday, April 26, 2005

No lago da dor, a correnteza

Ao se olhar no espelho, sente algo diferente. Uma incerteza, um desconforto. Reprova sua própria imagem. Não quer mais olhar - não admite. Vira as costas como se fosse adiantar. O sentimento o persegue, fazendo-o entender que não existe para onde ir, onde se enfiar. O gosto desagradável da consciência, da reprovação – que até ele mesmo faz; muito mais até que os outros – lhe invade o corpo e tenta lhe rasgar. Bufando e suando frio e quente, se debate como um animal selvagem, até acerta com a cabeça na porta. Tudo roda e ele cai. Desaba, agora tanto psicológica como fisicamente. Estirado ao chão, lamentando, começa a tremer, nervoso. Com os dentes se atracando e aparentemente sem forças, cambaleia ao se levantar e vai de encontro à porta do quarto. Gira a chave e tranca, isolando-se, e atira a chave a um rumo qualquer que não se preocupa em acompanhar. Chora. E chorando, se arrasta pela parede que agora o mantém protegido de todo o resto, tudo que está de fora. Sua vida, o mundo, tudo. Seu mundo agora é outro, ao menos por agora. As dores de cabeça aumentam, devido a intensidade da pancada. Não há mais cigarros na cabeceira ou bebida nas garrafas caídas pelo chão. Apenas sua cama, que parece não julga-lo ou reprova-lo por nada, é indiferente. Inicia então um monólogo, daqueles deprimentes, de quem está cansado e sem crenças. Estas foram dar uma volta e não avisaram quando retornam. Entra debaixo do lençol e se cobre, abraçando o próprio corpo. E torna a chorar, sozinho.

Saturday, April 23, 2005

Mais um pouco de uh

Acredito, agora, que muitas coisas acontecem de forma programada. Coisas que não se parecem com coincidências devido a sua influência nos rumos que nossas vidas tomam e nas experiências que adquirimos com elas. Peças que pareciam não ter uma cor muito certa ganham expressão, tornando-se parte fundamental de algo. Isso tem ocorrido muito, mas apenas porque eu prestei atenção e assimilei passado e presente, baseado no que eu projetava como futuro, ou com o que eu achava que seria mas não deveria acontecer, e levei um tempo para perceber. Acredito que, alguns dias, o mundo inteiro conspira a nosso favor. Como se estivéssemos caminhando rumo a um lugar, que muitos pregam como sendo uma missão. Quanto a isso, não sei não. Mas não duvido nada.

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Esta semana foi perfeita. Muito cinema - fiz meu próprio festival ontem, assistindo dois filmes em seguida -, chopp e um ensaio incrível com o meu novo baixista, que animou tanto eu quanto o baterista, uma vez que misturamos Mars Volta com Jazz - espero que não tenha soado pretensioso demais; mas se a pretensão aqui for apenas "ambição" com um pouquinho de vaidade, não será exagero.

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Alguns filmes bons:


- "Janela Secreta" ( c/ Jonny Depp)
- "A Informante" ( c/Kidman e Sean Penn - ver os dois no mesmo filme dá imenso prazer)
- "Reencarnação" ( c/Kidman)
- "A Última Tentação de Cristo" ( c/ Willem Dafoe)
- "Fale com Ela" (é do Almodovar)
- "Antes do Pôr-do-Sol" ( c/ Ethan Hawk e Julie Delpy)
- "Sobre Meninos e Lobos" ( c/ Sean Penn!!!)
- "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" ( c/Jim Carrey e Kate Winslet)
- qualquer filme em que mostre Angelina Jolie ou que tenha trilha do Phillip Glass
- "Laranja Mecânica" ( do Kubrick)
- "Janela Indiscreta", e, "Festim Diabólico" ( ambos do Hitchcock)
- "Crepúsculo dos Deuses" ( sei lá de quem é, mas é antigo e em preto e branco)

Saturday, April 16, 2005

À espera

Outro dia. Os copos em cima da mesa, a mobília no lugar de sempre. Saudades percorrem a mente. Hoje é um dia bom – ao menos teria tudo para ser; mas na verdade o é. Viemos aqui para nos encontrar como algum tempo já não acontecia. Um filme. Não foi muito bom, como haviam dito, mas deu para distrair.
O som dos pensamentos corre pelas paredes, que parecem aprisionar esta vida, que por sua vez tanto busca a libertação. Infelizmente hoje essa libertação só viria por completo se de mãos dadas com uma paixão, uma atração fatal, que quando passa deixa seu rastro e nada mais parece ser como era antes.
Nuvens de um tom acinzentado se aproximam, como posso ver ao olhar pela janela. Seria fácil encontrar aí uma analogia com o estado atual das coisas. Tudo vai, mas ao mesmo tempo sem muita cor. O desbotamento incomoda. Se trata de uma condição natural, embora eu me recuse a aceitá-la. Na verdade não a desejo e pronto. Nada de aceitação, redenção.
Na rua tudo fica mais bonito. As luzes abrem caminho para novas esperanças, regadas na previsão de que hoje À noite haverá vinho. Vinho e champagne, que funcionam como lentes de contato que nos abraçam para dizer que a noite é linda e gostosa. Da mesma forma como aquela pessoa que ainda não sabemos qual vai ser, mas que será a próxima a repartir nossos sentimentos.
Um brinde. Um brinde aos que se esforçam e tem esperanças. E outro aos que esperam por algo que ainda está por vir – não se sabe quando.

Thursday, April 14, 2005

Em algum lugar

Sinto saudades, uma falta
Quero o que antes tinha
Um sentimento
Daqueles bons e gostosos
Refrescantes

Algo passou, deixando rastro
Uma marca bonita
Lembranças das quais não me arrependo

Seu perfume ainda não senti
Seu beijo, ainda está em minha boca
Mas na grafia deste geoplaneta
Estamos distantes

A mente dando golpes
Aos quais nem sempre temos defesa
Nos deixando inconscientes
Do que realmente acontece por dentro e por fora

Vida
Calor e afeto entrelaçam-se
Uma presença que não se esvazia por completo

Suas mordidas em minha alma
Meu corpo sujo e decadente
Pronto para a volta, o resgate
De tudo que eu sei que sou
Mas ontem havia me esquecido

Olho com olhos vivos e percebo
Que antes iludido,
Agora esclarecido,
Sua voz continua a passear
Em minha vida,
Em algum lugar

Monday, April 11, 2005

Visões sugeridas e duas notinhas


Visões sugeridas

Acredito que, no processo de formação da consciência da realidade, ou seja, o parece que estamos vendo, exista uma conexão feita com o que acreditamos, o que queremos acreditar, nossos medos, nossa coragem, e o quanto nos permitimos - também por meio das experiências vividas - levar em conta como conceitos e teorias previamente comprovados.
Ou seja, as experiências passadas, nosso conhecimento adquirido - parte dele também filtrados por nós mesmo e por outros, que deixamos filtrá-lo por nós -, e nossas crenças interferem MUITO na nossa percepção de realidade. Um exemplo? Eu já passei por momentos em que uma determinada mulher se mostrava muito mais importante do que ela na verdade era. Eu ME PERMITI isso. Não que tenha sido uma escolha voluntária, mas não dependia dela - da mulher. Dependia de como eu enxergava a situação. Também é por isso que, ao amadurecermos - e isso é algo que deveria ocorrer continuamente -, passamos a entender melhor a vida. Isso se estivermos dispostos!

PS (post scriptum): o medo, que eu tanto abomino - quem lê o que aqui escrevo assiduamente sabe - pode nos atrapalhar ao tentarmos compreender a realidade, como uma fuga nossa, no intento de nos defendermos daquilo que nos assusta - embora esteja ali, não há como fugir.

PS 2: os desentendimentos existem porque pessoas diferentes criam percepções diferentes, e estas acabam por geram conflitos.

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Existe uma música, da excelente banda Muse, que diz assim "paradise comes at a price that I am not prepared to pay...". Não me lembro do nome dela, mas é a última música do segundo CD da banda.

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Nem sempre preciso que vocês digam seus nomes para que eu tenha a certeza de quem foi que escreveu - mas ainda aprecio muito a gentileza dos que assinam seus pensamentos; quem não quiser não precisa, não vamos forçar uma barra aqui.

Saturday, April 09, 2005

No corredor escuro

Num corredor negro, aparentemente vazio, encontro a imensidão do desconhecido. Pode ser qualquer forma, qualquer caminho – embora eu sinta, ou até mesmo perceba, que ele me leva a um determinado lugar. Tomo meu rumo e sigo em frente. Com os ruídos estranhos passeando ao redor da minha cabeça, brincando com os meus sentidos – sim, os sons são notáveis e percebidos também pelo tato! – se esforçam. Em que, isso eu já não sei mais; mas eles continuam presentes assim mesmo.
Um passo após o outro, vou conhecendo o terreno, preocupado em não acertar nenhum obstáculo ou cair em um buraco – torcer o pé ou quebrar o nariz aqui não seria uma visão das mais desejadas; aliás aqui todas as visões são imaginadas, formadas por meio de sugestões que levam a conclusões – podendo estas estarem erradas!
Ouço vozes. Parecem vir da esquerda. Um diálogo. Desconfio que estejam falando de mim, tramando alguma coisa. Acerto algo com o pé. Provavelmente uma pedra. Pesada! Busco-a e, depois de contemplar por instantes minha idéia, atiro-a ao longe. Nem sabia que seria capaz de tamanha força. Mas.. estranho... não fez nenhum barulho, não houve reação. Continuo mais um pouco à espera, mas não adianta, não há nada.
Começa a ventar, e muito. Uma ventania fria e quente ao mesmo tempo. Pingo de suor enquanto saio em busca de um casaco. Ora bolas, como poderia encontrar um agasalho se eu nem mesmo sei onde estou! O vento se fortalece aos poucos, me forçando levemente para trás; e tornando a minha jornada bastante desagradável.
Lembrando que desagradável mesmo seria um cisco em meus olhos, me apercebo de óculos. E desde quando eu uso óculos? Ainda mais à noite! Será que é mesmo noite? Pode ser um estado fora do comum,uma realidade com a qual ainda não esteja acostumado, onde não existe o famoso Dia.
Tiro, então, os óculos, e enxergo luzes. Luzes bem fortes, como se fossem holofotes incandescentes, loucos para cegar qualquer um que ouse toca-los com seu irrisório e previsível olhar. Aos poucos minha vista se adapta a situação, quando já posso distinguir formas. Vejo postes, diversos e enfileirados, como se seguissem ao infinito – que neste momento entendo perfeitamente como a incapacidade de imaginar o todo. Todos do lado esquerdo. Estou em uma rua, embora esta se pareça, ainda, com um corredor. A mão é única e não vejo ninguém. Mas ainda posso escutar as vozes. Não saberia ao certo de onde vêm, mas elas estão por aí.

Wednesday, April 06, 2005

Pensamentos

"Começar é a parte mais importante de qualquer trabalho"

-Platão


"A imaginação é mais importante do que o conhecimento"

- Albert Einstein


"Nunca se vai muito longe quando não se sabe para onde está indo"

- Johann Wolfgang von Goethe

Sunday, April 03, 2005

Tudo em casa

Três horas da manhã, na passagem de um sábado para um domingo qualquer. Na verdade não é um fim de semana qualquer, mas seria não fosse por uma surpresa gostosa. Ela veio da França diretamente para o Rio e comigo está a passar o fim de semana na montanha gelada. Nos divertimos bastante e, após um pouco de vinho e um bom bate-papo, ela foi dormir. Não é um sentimento como os outros, mas é um tipo de amor. É um amor mais tranqüilo, sem neuroses, como se ela estivesse substituindo a irmã que eu nunca tive – e que sempre busquei, mas, em geral, esse tipo de coisa chega sozinho, sem que você pense nisso. Ela dorme no meu quarto, na cama do meu irmão que já não mora mais aqui. Interessante isso. Meu irmão sai e entra essa menina meiga e doce como nunca se vira antes, como que se estivesse avisando que seu papel é realmente de uma irmã – e na cama do verdadeiro irmão! É, algumas vezes eu exagero nas explicações, espero não estar tornando esta leitura uma coisa muito chata.
Cães latem lá fora, numa madrugada em que se torna impossível o resgate da sensação infernal que é o verão carioca – faz frio. Todos estão deitados, menos eu; mas isso já está claro para você, uma vez que pode ler o que eu escrevo. O celular marca as horas. O computador também, e assim o faz o relógio de parede da sala. Todos avisando que já é madrugada, que estão quase todos dentro de seus sonhos inconscientes, e o programa livre, que já não tem mais o mesmo nome, mostra o Veríssimo filho em entrevista com o Serginho.
Não gosto de ficar sozinho à noite, parece que o mundo acaba, que está vazio e que eu nunca mais vou escutar a voz de nenhum ser vivo, apenas gravações de seres que nunca tive a oportunidade de conhecer e que se mostram bastante distantes de mim agora. Nesses momentos agradeço ao inventor da televisão. E a rede globo também, quem diria. Se tem uma coisa que eu nunca faço essa coisa seria me deitar sem estar com sono. Impossível. Sempre que eu me deito é para dormir dentro de uns poucos minutos, de preferência ao som de uma música gostosa, nada de Shostakovitch – não sei se está escrito corretamente. Uma vez tentei conhecer o compositor enquanto me deitava e a experiência foi a mais próxima de um suspense que eu já vivi – me levantei correndo com o dedo indicador apontando ereto na direção do off.
Peraí, voltando à Terra. Aude acaba de chegar aqui dizendo “porra, ta muito alto isso”, com aquela cara de quem tenta dormir e não consegue. Não faz muita diferença para mim, já que está passando um daqueles filmes que não têm importância para ninguém. Agora vou parar de escrever, vou ver se faço outra coisa. Para quem estiver a dormir uma boa noite. E para quem estiver no meio do dia, leia este texto antes de dormir.