Tuesday, April 26, 2005

No lago da dor, a correnteza

Ao se olhar no espelho, sente algo diferente. Uma incerteza, um desconforto. Reprova sua própria imagem. Não quer mais olhar - não admite. Vira as costas como se fosse adiantar. O sentimento o persegue, fazendo-o entender que não existe para onde ir, onde se enfiar. O gosto desagradável da consciência, da reprovação – que até ele mesmo faz; muito mais até que os outros – lhe invade o corpo e tenta lhe rasgar. Bufando e suando frio e quente, se debate como um animal selvagem, até acerta com a cabeça na porta. Tudo roda e ele cai. Desaba, agora tanto psicológica como fisicamente. Estirado ao chão, lamentando, começa a tremer, nervoso. Com os dentes se atracando e aparentemente sem forças, cambaleia ao se levantar e vai de encontro à porta do quarto. Gira a chave e tranca, isolando-se, e atira a chave a um rumo qualquer que não se preocupa em acompanhar. Chora. E chorando, se arrasta pela parede que agora o mantém protegido de todo o resto, tudo que está de fora. Sua vida, o mundo, tudo. Seu mundo agora é outro, ao menos por agora. As dores de cabeça aumentam, devido a intensidade da pancada. Não há mais cigarros na cabeceira ou bebida nas garrafas caídas pelo chão. Apenas sua cama, que parece não julga-lo ou reprova-lo por nada, é indiferente. Inicia então um monólogo, daqueles deprimentes, de quem está cansado e sem crenças. Estas foram dar uma volta e não avisaram quando retornam. Entra debaixo do lençol e se cobre, abraçando o próprio corpo. E torna a chorar, sozinho.

2 comments:

Projeto Vida Saudável said...

Olá rapazinho... hj vou falar o que queria naquele dia turbulento... queria te dizer que quando te conheci eu não me senti muito à vontade com vc... não sei bem... mas alguma coisa era estranha a mim... provavelmente a situação era estranha e não vc....rs* ...mas acontece que eu mudei totalmente de opinião, caindo no meu grande lema de que a primeira impressão não é a que fica, e hj eu acho que vc é uma pessoa muito legal, que se entrega ao que sente e não tem medo de demonstrar seus sentimentos... sinto inveja... porque muitas vezes quis me comportar dessa forma e fui covarde... Te adoro tá menino... Ahhhh, e sim, câncer combina com peixes, mas pode tirar o cavalinho da chuva, hehe.
Sobre o seu post... nossa, quanta tristeza... parece com a Carla de antigamente... que algumas vezes vem me visitar num dia chuvoso e triste... bj.

Mauro said...

Opa, respondendo ao seu comentário sobre o smile:
como fica difícil identificar o sarcasmo e a ironia por texto (a menos que seja muito bem escrito) acaba se fazendo necessário indicar a cara que nós estamos fazendo enquanto dizemos algo pra evitar o mal entendido. Eu uso sempre quando vejo a possibilidade de alguém se ofender com o que eu estou excrevendo ;c)