Sunday, April 03, 2005

Tudo em casa

Três horas da manhã, na passagem de um sábado para um domingo qualquer. Na verdade não é um fim de semana qualquer, mas seria não fosse por uma surpresa gostosa. Ela veio da França diretamente para o Rio e comigo está a passar o fim de semana na montanha gelada. Nos divertimos bastante e, após um pouco de vinho e um bom bate-papo, ela foi dormir. Não é um sentimento como os outros, mas é um tipo de amor. É um amor mais tranqüilo, sem neuroses, como se ela estivesse substituindo a irmã que eu nunca tive – e que sempre busquei, mas, em geral, esse tipo de coisa chega sozinho, sem que você pense nisso. Ela dorme no meu quarto, na cama do meu irmão que já não mora mais aqui. Interessante isso. Meu irmão sai e entra essa menina meiga e doce como nunca se vira antes, como que se estivesse avisando que seu papel é realmente de uma irmã – e na cama do verdadeiro irmão! É, algumas vezes eu exagero nas explicações, espero não estar tornando esta leitura uma coisa muito chata.
Cães latem lá fora, numa madrugada em que se torna impossível o resgate da sensação infernal que é o verão carioca – faz frio. Todos estão deitados, menos eu; mas isso já está claro para você, uma vez que pode ler o que eu escrevo. O celular marca as horas. O computador também, e assim o faz o relógio de parede da sala. Todos avisando que já é madrugada, que estão quase todos dentro de seus sonhos inconscientes, e o programa livre, que já não tem mais o mesmo nome, mostra o Veríssimo filho em entrevista com o Serginho.
Não gosto de ficar sozinho à noite, parece que o mundo acaba, que está vazio e que eu nunca mais vou escutar a voz de nenhum ser vivo, apenas gravações de seres que nunca tive a oportunidade de conhecer e que se mostram bastante distantes de mim agora. Nesses momentos agradeço ao inventor da televisão. E a rede globo também, quem diria. Se tem uma coisa que eu nunca faço essa coisa seria me deitar sem estar com sono. Impossível. Sempre que eu me deito é para dormir dentro de uns poucos minutos, de preferência ao som de uma música gostosa, nada de Shostakovitch – não sei se está escrito corretamente. Uma vez tentei conhecer o compositor enquanto me deitava e a experiência foi a mais próxima de um suspense que eu já vivi – me levantei correndo com o dedo indicador apontando ereto na direção do off.
Peraí, voltando à Terra. Aude acaba de chegar aqui dizendo “porra, ta muito alto isso”, com aquela cara de quem tenta dormir e não consegue. Não faz muita diferença para mim, já que está passando um daqueles filmes que não têm importância para ninguém. Agora vou parar de escrever, vou ver se faço outra coisa. Para quem estiver a dormir uma boa noite. E para quem estiver no meio do dia, leia este texto antes de dormir.

1 comment:

Anonymous said...

Ninguém como você para narrar tão bem um acontecimento tão simples. Você faz ele ficar distinto.
Beijos,
Catarina