Sunday, January 02, 2005

Poder - da natureza e do dinheiro

Um estouro. Parece que a coisa ta feia na Rocinha – perto daqui. Isso perturba, mas não como o caminhão que passa avoado pela rua e faz o chão tremer. O tiro – um covarde, sempre trazendo outros junto com ele – atravessa o nosso escudo de indiferença e implanta um chip em nossa cabeça, nos tornando ao mesmo tempo neuróticos e insensíveis. Uma insensibilidade capaz de nos habituar às desgraças cotidianas.
Venta aqui. Essa brisa gostosa que me tranqüiliza e disputa um espaço com o calor do verão alucina a minha razão, enquanto me recordo de outra tragédia. Já são 140 mil mortos na Ásia. Onde é que se encaixa uma enorme Tsunami – que mais parece um poderoso demônio japonês – atacando o litoral de diversos países – é a globalização, modernizando a natureza -, ainda por cima pobres, em um belo dia de sol com as praias cheias, e as lojas repletas de turistas mimados, que não sabem mais com o que gastar o seu dinheiro? È como naqueles filmes idiotas onde se percebe o medo “americano” – desistamos, eles são os donos deste grandioso continente, nos somos apenas brasileiros, filhos de continente nenhum – com relação ao equilíbrio natural dos fenômenos irrefreáveis de Gaia. Aliás, esses filmes são também uma nítida analogia ao medo que os “americanos” têm de certos povos, dos diferentes, do desconhecido em geral.
Um ponto de vista interessante, embora nada agradável, é que essas desgraças aumentam a alegria de certos poderes. Para algumas forças políticas essas mortes ajudam a manter a estabilidade dos mais ricos. Assim como enviar os rapazes que não entraram para nenhuma universidade para uma “missão de paz” no Oriente Médio. Esse pessoal só traz despesa, atrapalha a vida do cara que precisa abarrotar seus orifícios com muito dinheiro. Nada de ajudar os pobres, democracia ou Tratados de Kyoto. O importante é morrer enterrado embaixo de moedas de ouro, bem ao estilo Tio Patinhas.
O que você faz para resolver os problemas de um mundo onde, para que todos pudessem viver ao nível da classe média, seria necessário o equivalente a cinco vezes o total da produção global de alimentos? Bom, se você faz parte do poder, exorta os inúteis e torce por outra catástrofe – no fim das contas sai mais barato.

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