Monday, January 24, 2005

Olegário e o mamão papaya

Praia, sol, mulheres e cerveja. E mais mulheres. “Tudo de bom”, admirava Olegário. Depois de mais um ano inteiro de sopapos e tropeços, trabalhando noite e dia, e com um salário indigno de qualquer imbecil que seja, ele está de férias. E na praia, onde ele pode ir sempre e, teoricamente, ficar o quanto quiser. “Ahh...”, se prepara ele com uma grande espreguiçada, ao descer as escadas da calçada em busca de um lugar bastante “florido” em meio àquela areia toda.
O sol está ótimo, o mar não está nem pacato e nem de ressaca. Passam moças de todos os tipos e nacionalidades – o cenário é Copacabana, ok? Loiras, morenas, ruivas – opa! – saradas, magrinhas “fashion week”, popozudas.. tem pra todos os gostos.
- Uma cerveja! – pede ele ao homem que passa com o isopor. (Na verdade eu, o autor, tenho pena desses caras que ficam o dia inteiro torrando num sol de 41 graus. Como eles agüentam?)
Abre a latinha e vira metade de um gole só – bem, na verdade de um gole só é impossível, mas ele virou de uma vez e sem interrupções; de um gole só seria algo mais, digamos, “poético”.
Súbito, uma morena – nítidamente uma freqüentadora assídua de academias de musculação – surge com o seguinte pedido:
- Olá, você pode passar o protetor nas minhas costas?
Olegário mal podia acreditar. Esfregou as mãos nos olhos para ter certeza – era tudo que ele queria:
- Claro, que sim! Com todo prazer!
E lá vai o nosso rapaz se deleitando ao massagear, assim como quem não quer nada, as costas da beldade, com suas mãos exageradamente lambuzadas – as do Olegário, não as da moça - de protetor número 15.
- Hu-hu-hu...
“Quem som é esse?”, indaga Olegário. Ele olha para os lados e não vê nada que pareça ter sido responsável por tal ruído. “Estranho, mas deixa pra lá”, se satisfaz. Passar o protetor nessa morena está sendo bom demais para querer desviar os seus pensamentos.
- Hu-hu-hu... (galera, isso aqui se lê “rrú”, ou “who”)
Ele olha novamente para os lados, mas não encontra nada além das mulheres e da praia maravilhosa – ok, também tem umas crianças correndo e os marombeiros de sempre.
-Hu-hu-hu... – agora com mais força, as vozes parecem ser muitos.
Olegário começa a dar nos nervos. “Que porra é essa?!”, se desespera.
- Ei! Você colocou protetor dentro do meu ouvido – reclama a morena, agora indignada com ele, desmanchando toda a fantasia que a situação tinha momentos antes.
- HU-HU-HU...
Virando a cabeça como quem sabe que está prestes a encarar algo muito desagradável – ao poucos e com uma cara de “ah, não!” – ele se depara com o improvável.
Uma manada de mamões papaya correm na praia, com roupas ao estilo de uma das tribos canibais do filme do Indiana Jones, fazendo um enorme arrastão.
- HU-HU-HU!!!
Mulheres gritam, crianças começam a chorar e a baderna se generaliza. Ninguém sabe ao certo que fazer e muito menos como isso foi acontecer, mas o primeiro instinto coletivo vou o de fugir.
Os mamões vinham correndo munidos de cocares, lanças e escudos. Eles gritavam seu tema de guerra, munidos de lanças e escudos. Em geral, pareciam medir cerca de 1 metro e meio, e gritavam como primitivos alucinados.
Enquanto os monstrinhos corriam e todos os outros tentavam se salvar, uma parede de mamões brandindo os dentes vêm da calçada, em direção à areia.
- Meus Deus, esse troços estão nos cercando! – grita uma mulher enquanto corre, grita e chora.
Enxergando o que se mostra como sendo sua única saída, Olegário ignora todos e corre rumo ao mar. “Vou ter que nadar muito”, percebe ele puto da vida. E ele nada. Nada, nada e.. “nada” – quero dizer, não consegue sair de perto da areia. E os mamões gritantes e animalescos, com seus dentes afiados, tentam cerca-lo. Numa situação dessas, é normal de se imaginar que não terá muita saída. Então, ele mergulha fundo e tenta nada por baixo d´água para bem longe. Seu ar acaba e ele não pode subir, porque os mamões estão por toda parte, prontos para captura-lo e fazer sabe-se lá o que com ele.
Olegário, desesperado, luta contra sua falta de ar. Faz tudo que pode para retornar à superfície da água, mas... Tudo escurece. “Quem isso, um eclipse logo agora?! Ou será que eu vou desmaiar?” Ele tenta continuar nadando quando, de repente, cai no chão. “Que chão é esse?!” Bate com a cabeça, em algo que, pelo som reproduzido, parece ser feito de madeira. “Ah, não é possível...” Acreditando que está em seu quarto, e que tudo não passou de um sonho – engraçado pra nós, mas pra ele foi um pesadelo – ele vai em direção ao interruptor, disposto a acender a luz. Mas a luz não funciona. “Estranho, ontem mesmo a ministra disse que não iria mais faltar luz na cidade...” E logo uma trovoada faz um som estrondoso - Tbám! (coloquei maiúsculo porque foi uma senhora trovoada)
“Merda, deixei as janelas abertas. Vai molhar tudo!”, e corre para fecha-las. Mas susto mesmo foi o que Olegário sentiu agora, lhe dando calafrios rodopiantes, que saiam do centro de sua coluna e se espalhavam por todo o corpo. Um indivíduo não-indentificável encontrava-se prostrado bem à sua esquerda, assim que ele chegara na varanda.
- Quem é você?! – grita nosso colega.
- Não está se lembrando de mim, Olé? Aliás, que nome é esse que sua mãe te deu, viu...
- Eu não sei quem é você e quero que você sai imediatamente daqui! Não devo nada pra ninguém!
- Ah, haha! Você é quem pensa, seu ingênuo subalterno.. você nos deve muito...
Sem entender nada do que se passava, Olegário – coitado – corre desesperadamente em direção à porta de entrada – que nesse caso serve de saída.
- Volte aqui seu verme, temos contas a acertar!
Olegário, tremendo como um filhote de cabrito no Antártida, procura desesperadamente pelas chaves, que não estão na porta. Seu opositor caminha em sua direção a passas lentos e tranqüilos. Percebendo o reflexo que algo fazia em sua mesa de cabeceira, nosso herói – tss! – salta como um agente secreto e, fazendo uma acrobacia inédita em sua vida, pega as chaves e volta para a porta – não vou ficar dizendo “de saída”, “de entrada”.. é a mesma porta.
Agora, com as chaves na mão, ele tenta descobrir qual delas é a que ele precisa. Pela primeira vez ele dá valor aos conselhos de sua irmã, que achava um absurdo alguém carregar tantas chaves como ele. “Não sei pra que tanta frescura se você mora em um apartamento e tem porteiro no seu prédio”, costumava dizer Cristina. No caso, Cristina deu mais sorte, ficando com um nome de sonoridade agradável. Ela é dois anos mais nova, deu tempo para dona Maria aprender a lição.
- Nem mais um passo à frente! – diz seu ilustre invasor, destruindo uma ilusão de segurança que Olegário cultivara enquanto se lembrava de sua mãe.
“Ah, consegui!”, pensa esperançoso nosso amigo ofegante. E, ele abre a porta. Bom, é aqui que chegamos no momento em que tudo pode acontecer – o leitor talvez retruque “só aqui, né!”. Ele pode sair em busca de um lugar para se esconder mas... Ao abrir a porta, que acredita ser o seu passaporte para se ver livre de toda uma situação absurda, acontece o inesperado. Outro indivíduo – acho que vou passar a adotar a sigla INI, “Indivíduo Não-Identificado” – está do lado de fora. E com um sorriso enorme, de uma orelha à outra.
Não acreditando – mais uma vez – que tal situação pudesse piorar, Olegário se surpreende novamente; desta vez bem mais que das outras. Tbam! O rápido feixe de luz provocado por um trovão – marido da trovoada anterior – mostra o que mais poderia chocá-lo. Seus inimigos estavam vestindo ternos pretos e óculos escuros à noite – meio batido, mas até aí tudo bem, aceitável. Mas o inacreditável – prepare-se, caro leitor – é que eles são.. mamões papaya!
- Não acredito, isso não pode ser possível! – grita sem querer acreditar no que vê.
- Pode acreditar, pois nós iremos levar você conosco! – disse o mamão de terno à sua frente.
Olegário cai de joelhos nos chão e tudo começa a rodar. As risadas cinematográficas de vilões estilo Walt Disney soam aparentemente ao infinito, enquanto tomba com a cabeça e finalmente perde a consciência.
Ainda não estou muito certo se o conto vai terminar aqui...

5 comments:

Anonymous said...

Ola Guilherme!!!
Sou uma amiga do Léo...
Olha adorei o seu Blog...muito legal a sua maneira de pensar e ver as coisas...são poucas as pessoas que conseguem ver as coisas por esse ponto, que tem essa sensibilidade pra enchergar o além...
continue sempre assim ...
vou deixar uma coisinha pra vc heheheh...
Existe uma história de simplicidade linda,
que eu gostaria de te contar...
Uma lenda, um acalanto ...
Não sei se é verdade...e não importo-me com isso.
Não precisa ser...
Foi há muito tempo atrás...
depois do mundo ser criado e da vida completá-lo.
Num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno.
Um encontro entre Deus e um de seus incontáveis anjos.
Acredita?
Deus estava sentado, calado.
Sob a sombra de um pé de jabuticaba.
Lentamente sem pecado, Deus erguia suas mãos
então colhia uma ou outra fruta.
Saboreava sua criação negra e adocicada.
Fechava os olhos e pensava.
Permitia-se um sorriso piedoso.
Mantinha seu olhar complacente.
Foi então que das nuvens um de seus muitos arcanjos
desceu e veio em sua direção.
Já ouviu a voz de um anjo?
É como o canto de mil baleias.
É como o pranto de todas as crianças do mundo.
É como o sussurro da brisa.
Ele tinha asas lindas...brancas, imaculadas.
Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou.
"Senhor...visitei sua criação como pediu.
Fui a todos os cantos.
Estive no sul, no norte.
No leste e oeste.
Vi e fiz parte de todas as coisas.
Observei cada uma de suas crianças humanas.
E por ter visto vim até o Senhor...para tentar entender.
Por que? Por que cada uma das pessoas
sobre a terra tem apenas uma asa?
Nós anjos temos duas...
podemos ir até o amor que o Senhor representa sempre que desejarmos.
Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos.
Mas os humanos com sua única asa não podem voar.
Não podem voar com apenas uma asa..."
Deus na brandura dos gestos,
respondeu pacientemente ao seu anjo.
"Sim...eu sei disso.
Sei que fiz os humanos com apenas uma asa..."
Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor
o anjo queria entender e perguntou.
"Mas por que o Senhor deu aos homens
apenas uma asa quando são necessárias
duas asas para poder-se voar...para poder-se ser livre ?"
Conhecedor que era de todas as respostas
Deus não teve pressa para falar.
Comeu outra jabuticaba, obscura e suave.
Então respondeu...
"Eles podem voar sim meu anjo.
Dei aos humanos apenas uma asa para que eles
pudessem voar mais e melhor que
Eu ou vocês meus arcanjos...
Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas...
Embora livre, sempre estará sozinho.
Talvez da mesma maneira que Eu...
Mas os humanos...os humanos com sua única asa
precisarão sempre dar as mãos para alguém
a fim de terem suas duas asas.
Cada um deles tem na verdade um par de asas...
uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par.
Assim eles aprenderão a respeitarem-se pois
ao quebrar a única asa de outra pessoa podem
estar acabando com as suas próprias chances de voar.
Assim meu anjo, eles aprenderão a amar
verdadeiramente outra pessoa...
aprenderão que somente permitindo-se amar eles poderão voar.
Tocando a mão de outra pessoa em um abraço
correto e afetuoso eles
poderão encontrar a asa que lhes falta...
e poderão finalmente voar.
Somente através do amor irão chegar até onde estou...
assim como você meu anjo.
E eles nunca...nunca estarão sozinhos quando forem voar."
Deus silenciou em seu sorriso.
O anjo compreendeu o que não precisava ser dito.
E assim sendo, no fim desse conto,
espero que um dia você encontre a sua outra asa.
Para finalmente poder voar.
Bom, é isso aí heheh...
Um bjao da Van =) ( vanessa.vaz@gmail.com)

Anonymous said...

Ola Guilherme!!!
Sou uma amiga do Léo...
Olha adorei o seu Blog...muito legal a sua maneira de pensar e ver as coisas...são poucas as pessoas que conseguem ver as coisas por esse ponto, que tem essa sensibilidade pra enchergar o além...
continue sempre assim ...
vou deixar uma coisinha pra vc heheheh...
Existe uma história de simplicidade linda,
que eu gostaria de te contar...
Uma lenda, um acalanto ...
Não sei se é verdade...e não importo-me com isso.
Não precisa ser...
Foi há muito tempo atrás...
depois do mundo ser criado e da vida completá-lo.
Num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno.
Um encontro entre Deus e um de seus incontáveis anjos.
Acredita?
Deus estava sentado, calado.
Sob a sombra de um pé de jabuticaba.
Lentamente sem pecado, Deus erguia suas mãos
então colhia uma ou outra fruta.
Saboreava sua criação negra e adocicada.
Fechava os olhos e pensava.
Permitia-se um sorriso piedoso.
Mantinha seu olhar complacente.
Foi então que das nuvens um de seus muitos arcanjos
desceu e veio em sua direção.
Já ouviu a voz de um anjo?
É como o canto de mil baleias.
É como o pranto de todas as crianças do mundo.
É como o sussurro da brisa.
Ele tinha asas lindas...brancas, imaculadas.
Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou.
"Senhor...visitei sua criação como pediu.
Fui a todos os cantos.
Estive no sul, no norte.
No leste e oeste.
Vi e fiz parte de todas as coisas.
Observei cada uma de suas crianças humanas.
E por ter visto vim até o Senhor...para tentar entender.
Por que? Por que cada uma das pessoas
sobre a terra tem apenas uma asa?
Nós anjos temos duas...
podemos ir até o amor que o Senhor representa sempre que desejarmos.
Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos.
Mas os humanos com sua única asa não podem voar.
Não podem voar com apenas uma asa..."
Deus na brandura dos gestos,
respondeu pacientemente ao seu anjo.
"Sim...eu sei disso.
Sei que fiz os humanos com apenas uma asa..."
Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor
o anjo queria entender e perguntou.
"Mas por que o Senhor deu aos homens
apenas uma asa quando são necessárias
duas asas para poder-se voar...para poder-se ser livre ?"
Conhecedor que era de todas as respostas
Deus não teve pressa para falar.
Comeu outra jabuticaba, obscura e suave.
Então respondeu...
"Eles podem voar sim meu anjo.
Dei aos humanos apenas uma asa para que eles
pudessem voar mais e melhor que
Eu ou vocês meus arcanjos...
Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas...
Embora livre, sempre estará sozinho.
Talvez da mesma maneira que Eu...
Mas os humanos...os humanos com sua única asa
precisarão sempre dar as mãos para alguém
a fim de terem suas duas asas.
Cada um deles tem na verdade um par de asas...
uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par.
Assim eles aprenderão a respeitarem-se pois
ao quebrar a única asa de outra pessoa podem
estar acabando com as suas próprias chances de voar.
Assim meu anjo, eles aprenderão a amar
verdadeiramente outra pessoa...
aprenderão que somente permitindo-se amar eles poderão voar.
Tocando a mão de outra pessoa em um abraço
correto e afetuoso eles
poderão encontrar a asa que lhes falta...
e poderão finalmente voar.
Somente através do amor irão chegar até onde estou...
assim como você meu anjo.
E eles nunca...nunca estarão sozinhos quando forem voar."
Deus silenciou em seu sorriso.
O anjo compreendeu o que não precisava ser dito.
E assim sendo, no fim desse conto,
espero que um dia você encontre a sua outra asa.
Para finalmente poder voar.
Bom, é isso aí heheh...
Um bjao da Van =) ( vanessa.vaz@gmail.com)

Anonymous said...

Ola Guilherme!!!
Sou uma amiga do Léo...
Olha adorei o seu Blog...

...SACANAGEM!!! Agora é o Tiago, hehehe... Li o papaya e... o.O?!?!?!?
Abraços!

Mauro said...

É, parece que o seu blog está rendendo. O meu, só a minha mãe lê (ah, você também, desculpa).
Acho uma crueldade você terminar o conto por aí. Você tem que ver que no meio artístico, (musica, pintura, literatura...) o status do autor muda completamente a apreciação de uma obra. Portanto o Machado de Assis ou o Veríssimo têm (aliás, tinham, já que aquele tá morto e este só republica os clássicos com capa nova) o direito de deixar um conto em aberto. Você não! Termina senão eu vou achar que a inspiração acabou.
Do seu amigo e crítico, por vocação ou falta dela:P

Guilherme Martins da Costa said...

Na verdade eu tinha dois finais realmente conclusivos em mente.. mas tava tão cansado - heheh - que ia terminar de escrever para continuar depois - fiquei 3 h direto no conto!
Mas, pensei: "ei, legal isso.. diferente, até o arquivo X fazia isso! Pode ter o fim que cada um quiser!"

Só que agora estou em dúvida... seria válido escrever um post só com as diversas conclusões possíveis? Tipo um "parte 2"?
Vai depender da vontade - e de vcs, hehe...

Olha, gostei dessa do pq de ser crítico.. o Mainardi vive falando que não se formou.. o Jabor não deu certo no cinema.. gostei, mesmo.

Abração!