Sunday, April 30, 2006

Na distância, o olhar

Seus cabelos me mostram o quanto ela está livre e eu estou preso. Livres como o vento os quer e distantes de mim, que fico aqui neste calabouço enquanto vejo pela janela os passos dela durante todo o dia. Não posso tocá-la. Por mais que estique os braços, uma barreira invisível nos separa. Esta parede que apenas eu enxergo e que me faz perder o prazer de viver. Distante, eu tento me contentar com o doce sabor de vê-la passar e só. Cada passo é admirado individualmente. Cada gesto, cada pensamento. Não sei o que ela está pensando, mas crio no meu próprio mundo toda a realidade da qual participo agora, e nela eu sei o que ela pensa – acho que já estou começando a entendê-la.
Aqui dentro chove, neva, alaga e o sol é de rachar. Como não tenho protetor, já percebo que estou criando uma nova pele, de tanta dor sofrida. Dos seus lábios sai apenas música, assim como do seu perfume, que não sinto mas consigo idealizar, assim como todo o resto. Uma sonata, triste, de um instrumento que atua em movimentos solo, melancólicos e intensos. Quisera eu que ela pudesse me ouvir tocar uma canção. Uma canção diferente de tudo, onde nós seriamos um e não houvesse mais escuridão. Seria bonito, mas mais uma vez eu me encontro aqui sonhando. Sonho acordado para depois fugir com ela em sonho. Mas não um sonho azul, eu quero um sonho vermelho. Um sonho em que o meu sangue corra com tamanha força que me rasgue o corpo, mas antes me dê forças para destruir estas paredes e me livrar destas palavras imbecis e sinceras, que não trarão o meu amor.

1 comment:

Anonymous said...

Caramba,mais um texto e mais uma superação ! Vc vai longe. Tão longe, que consegue expressar com palavras, pensamentos simples, mas que passam despercebidos para a maioria. Penso como a pessoa que comparou o " Pote de ouro " com Mario Prata. Já pensou em mandar alguma coisa pra ele ler ? Acho que ele ia gostar muito. Parabéns !