Friday, October 28, 2005

A chuva, carregando as bostas flutuantes

Chove mais uma noite. O tempo lá fora refletindo o que se passa em minha mente, um temporal, um fenômeno que vem de tempos em tempos, buscando limpar toda a sujeira que foi deixada ali. Lavo o rosto e cuspo sangue. Olho para o sangue, vermelho como a guerra, um nascimento, um renascimento. Era disso que eu mais precisava neste momento. Decepções, meu deus, como eu me decepciono! Essa mania de colocar as pessoas em um pedestal, acreditar em suas convicções vazias, seus desejos de ser algo que elas não são e nem nunca serão, porque não passam de umas bostas poluentes e errantes. O relógio mostra que estou atrasado, corro o risco de perder o show; mais uma vez. Sinto que meus pudores estão sumindo, me sinto mais confiante e ao mesmo tempo gostando cada vez menos do convívio social. Não de todo o tipo de convívio, lógico. o ponto é que, não acreditando mais nas falsidades e não sendo mais capaz de agüentar a pequenez de certos seres, acabo por selecionar demais minhas companhias. E isso causa um certo isolamento. Acredito que, no entanto, não esteja me sentindo mais infeliz – todos nós temos graus de infelicidade, cada um o seu -, muito pelo contrário! Uma vez que você passa a entender melhor quem você é e à que se dedicar, quais as coisas que te fazem ser singular, ser você, não há solidão que te abale – isso seria algo mais hipotético, não sendo totalmente absoluto, mas funciona, lógico. A melhor companhia que se pode ter é a sua própria. Mas isso só serve se você estiver de bem consigo mesmo, porque quando não se gosta ou não se entende realmente o que se é, tudo que se busca é estar na companhia dos outros, sendo a maior infelicidade a de ter que se deparar com a sua íntima realidade. Se olhar no espelho e conversar consigo mesmo, tentar se entender. Mas me parece, hoje, ser o único meio de se encontrar a tranqüilidade “espiritual”, a da consciência.

1 comment:

Anonymous said...

Gui, os rios cantam ( ou choram ), porque tem muitas pedras no caminho. Use a sabedoria para desviar as que te fazem chorar.
Te amo.
Beijos, Catarina.