Monday, June 06, 2005

Sobre Oscar Wilde - iniciado nos comentários do último post

Ele não precisa estar absolutamente certo. Existem pontos de vista, e não a tal da "verdade", nestes casos.
As coisas simples se expandem aos nossos olhos quando descobrimos a incrível complexidade de cada sistema, sendo ele de idéias ou de qualquer outro tipo. Além da inter-relação entre as coisas, existe também a relatividade. Verdade única, absoluta e com apenas um lado, se unirmos todos essas três características, encontramos o fanatismo.

Somos atores, interpretando papéis, sendo enganosos com e próximo e com nós mesmos, manipulando a verdade, a realidade, criando assim uma proteção contra o mundo real e as situações que nos desagradam, como uma auto-defesa?
Sim e não. Acontece o tempo todo, mas não é apenas isso que acontece.
Um exemplo interessante que podemos encontrar seria as boas ações. É chamado de altruísta aquele que faz bem ao próximo, sem pensar em si mesmo e se colocando em segundo lugar. Só que está idéia é mal analisada. Quem faz o bem para o próximo sempre afirma que se sente muito bem fazendo isso. Seria ele, então, egoísta, uma vez que ele só faz atos de "boa fé" baseado em seu próprio prazer e satisfação? Essa é uma pergunta complicada de se responder. Entram aí muitos fatores, como a definição do que acreditamos ser o certo e o errado - que muda de uma cultura para outra.
Tanto quem faz o bem, como quem faz o “mal” estão seguindo seus próprios instintos. Uma pessoa não precisa ser má para fazer algo de ruim para os outros. Basta estar em uma situação que a deixe sem condições psicológicas para agir como lhe foi ensinado – e mais alguns outros fatores, que causam reações psicológicas adversas. Quem faz algo de ruim, na verdade precisa de ajuda, mas não a encontrou e libera seu pedido de socorro com atos tidos como malignos ou destrutivos.

Certo e errado? Conceitos deturpados – ou criados – tanto pelas crenças religiosas - com a ajuda da persuasão de seus líderes - como pela necessidade de segurança dos povos.

12 comments:

Anonymous said...

Certo e errado? O trecho de Wilde não possibilitou essa indagação, isso é irrelevante nas palavras dele.
Acho que por ser atores, tomamos papéis que muitas vezes não gostaríamos, mas torna-se necessário interpretá-los.
Não somos falsos ou determinamos nossos atos somente por auto-defesa, simplesmente nos apropriamos desses personagens e acreditamos viver e ser plenamente o que eles são, criamos ilusões dentro da realidade, que deste modo também são realidade, não por defesa, por ataque ou altruísmo, mas por uma mera miscelânia de pensamentos, que não engana, não falsifica, nem tem pretensão tão grande. Quando ele evoca Deus, não vejo caracterizado aí uma situação cristã, mas uma tentativa de entender como os papéis foram distribuídos, ou porquê os aceitamos.
Resumindo, a nossa vida pode ser comparada a um filme, onde nós construímos personagens simultaneamente a sua apresentação, só que muitas vezes corporificamos tanto eles que esquecemos que as coisas mudam ou, que nós mudamos, aí ficamos inertes aguardando nossos antigos papéis agirem por si, só que o tempo passa... e acaba.
Ah! E acho um péssimo exemplo o altruísmo!
Vai algo que tenta explicar:
"A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E, por isso, não perguntes por quem os sinos dobram". Eles dobram por ti. ..."
Altruísmo é a apercepção entre você e o outro, é onde se ajuda não para se sentir melhor, mas por sentir uma dor visceral cada vez que alguém sofre. Não se sente bem, somente se para de sofrer: um dia em que não se chora, é um dia de coração enrijescido e não um dia de coração feliz.

Guilherme Martins da Costa said...

Vamos começar pelo final. Fazer o bem faz bem sim. Olhe nos olhos de qualquer um que faz o bem. Você verá plena realização, é como se a existência da pessoa ganhasse sentido. Nunca vi diferente; posso dizer também que fiz bem ao próximo vezes o bastante para entender - experimente visitar um orfanato com crianças sem pai nem mãe e brincar com elas, carregar no colo.

Não, nada é irrelevante. Isso seria uma análise bastante superficial. E sim, possibilitou a indagação do certo e do errado; na verdade não foi uma indagação, foi uma reflexão, uma perspectiva já pronta que se encaixou perfeitamente no caso. Tanto que o post está aí e surgiu graças ao texto de Oscar. Mas a exigir que todos pensem igual e enxerguem a mesma coisa, isso nenhuma pessoa de mente aberta exigiria. Para isso existe a troca, a discussão.

O ser humano é fraco, tem medos, incertezas, não sabe por que e pelo que ter fé, se agarra em coisas que pareçam lhe trazer conforto e cria ilusões de realidade. Na verdade a realidade é uma só, mas as percepções é que são muitas. as opiniões são muitas. As necessidades são diversas. Fica impossível que todos sigam o mesmo caminho.

Outra coisa. Religião é um assunto muito complexo não se baseia em fé. Se baseia em incertezas, necessidade de segurança, além de MUITAS outras coisas. Muitas mesmo. Não podemos ser ingênuos.

Quanto aos papéis que construímos, faz parte do ser humano ser dissimulado vez por outra. Somos dotados de inteligência o suficiente para não sermos sinceros a todo o momento. A nossa noção do perigo nos ajuda a evitar circunstâncias desagradáveis; também devemos levar em conta a vontade de ficar em paz mesmo quando sentimos vontade de estrangular alguém, ficando, então, quietos ou silenciosos.. as vezes até mesmo sorridentes.

Cada um faz o que acha certo. Se você acha certo fazer isso ou aquilo, você o fará. Não existe conceito absoluto.

Palestinos, budistas, israelenses, americanos, franceses, japoneses, brasileiros, canadenses, chilenos, colombianos, cubanos, chineses, vietnamitas, noruegueses, alemães, cambodjanos.. todos queremos a paz. Queremos viver tranquilos, sem brigas. Mas não é apenas isso. Existe muita coisa - acho que a inveja e o medo são pontos chave - e a paz acaba se tornando algo distante. Embora a desejemos aqui bem pertinho de nós.

Não existe nenhum sistema fechado. Tudo se inter-relaciona. Mesmo que em alguns casos pareça que não.

Obs: crer em um Deus não é tarefa apenas do cristianismo. É algo que incide em inúmeras culturas, das formas mais variadas. Estaria uma mais certa do que a outra? Talvez, ams não é assim, de susto, que podemos julgar o que não conhecemos.

Anonymous said...

Para vc: vc não acha que esse discurso merecia uma assinatura ?


Gui, nem sim nem não, muito pelo contrário...
Beijos,
Te amo.
Catarina.

Guilherme Martins da Costa said...

A pessoa quis que apenas eu soubesse. Tranquilo, quis se guardar. Respeito isso - mas ao menos eu sei quem é.

Anonymous said...

Dizem que a felicidade está logo ali, mas ou ensinam errado ou, na verdade ninguém sabe nem o que é .
Beijos,
Catarina.

Anonymous said...

Explicando melhor : acho que quando se fala em religião e paz, no fundo, se fala na tal "felicidade" .No fundo do coração, todos queremos "Campos de morangos para sempre".
Mais beijos,
Catarina.

Anonymous said...

Ah! Esqueci!
Lehonna Teles

Anonymous said...

AH!Ingagar não é refletir, mas já se perguntou se a reflexão consiste num exercício contínuo de indagações?

Guilherme Martins da Costa said...

Quando indagamos refletimos, mas nem sempre ao refletirmos indagamos.

Guilherme Martins da Costa said...

Oscar Wilde disse certa vez que se concordassem com ele, ele se tentaria a encontrar o erro em seu pensamento e mudar de opinião.

Anonymous said...

A existência está intimamente atrada À irritabilidade do outro. Parto desse princípio pra dizer que, quanto mais se realiza, mais se interfere, e mais se existe.

Anonymous said...

Não escrevo para concordar ou discordar de alguém ou, simplesmente irritar! Achar Wilde muito bom, não significa trazer para mim tudo o que ele foi!
Para isso, eu deveria ser homossexual,perder meus amigos, todos os meus bens teriam que ser leiloados, deveria perder um casamento e filhos que mudariam de nome (me repudiando), deveria estar fraca, deveria perder o sentido da minha existência, ficar presa por dois anos, sofrer tanto que nem morfina na jugular fizesse cessar, me conhecer tão bem(como ele se conheceu), sentir forte todos os meus momentos, mesmo os de apatia e solidão e, escrever tão bem quanto ele ...
Concordar com ele, não requer tornar-se ele.
Além de tudo você me conhece e, sabe que tenho minhas convicções.

Beijos e saudade de conversar pessoalmente!
Lehonna